
1694: A DESTRUIÇÃO DO QUILOMBO DE PALMARES
«Sem negros não há Pernambuco, e sem Angola não há negros», escreveu uma vez Padre António Vieira a partir da Holanda. Mas este volume vem falar-nos de outro Pernambuco, de outra Angola, e até de outro estado que existiu durante o século xvii nos territórios sob jurisdição do Reino de Portugal na América do Sul: o Quilombo de Palmares. Palmares era uma vasta extensão no nordeste do Brasil, com uma capital chamada Macaco, um rei chamado Ganga Zumba, o seu sobrinho guerreiro Zumbi, e com uma sociedade de escravizados fugitivos, auto‑ organizados naquilo a que chamavam Angola Janga — a Pequena Angola, do lado do Atlântico oposto ao da Angola Grande, em África.
Pedro Puntoni faz‑ nos voltar o olhar para esse enorme contingente dos milhões de africanos escravizados nestes séculos e para a forma como o tráfico de seres humanos condicionou as dinâmicas políticas e económicas entre três continentes, com o ritmo do desembarque dos escravos a aumentar em 1694, dinamizado pela descoberta do ouro no sertão do Brasil. Palmares foi destruído, e, neste final de século xvii, vai‑se tornando cada vez mais definitiva a noção de que o Brasil poderia vir a ter mais importância para o reino do que o próprio Portugal, o que por sua vez condicionaria grande parte das escolhas políticas futuras da coroa portuguesa.
Pedro Puntoni
Pedro Puntoni (São Paulo, 1967) é professor na Universidade de São Paulo (Brasil). É investigador no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Licenciou‑se em História (1989), com mestrado (1992) e doutoramento (1998) em História Social, além de livre‑docência (2010) em História do Brasil Colonial pela Universidade de São Paulo. Foi investigador visitante do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa em 2001 e em 2016‑2017. Entre 2007 e 2014, dirigiu a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. De entre os seus vários artigos e livros publicados, destacam‑se A Guerra dos Bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão norte do Brasil, 1650‑1720 e O Estado do Brasil: poder e política na Bahia colonial.