585: PORTUGAL, UMA RETROSPECTIVA - Tinta da China
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585: O TEMPO DOS VISIGODOS

Em 585, a Península Ibérica unifica-se sob o Reino Visigodo, liderado por Leovigildo. Mas tal como noutras ocasiões passadas e futuras, esta é uma unificação que esconde uma enorme diversidade, como no-lo explica neste ensaio Paulo Almeida Fernandes. A unificação esconde um profundo cisma religioso entre o arianismo antes predominante (os arianos acreditavam na «profecia» de um Jesus Cristo humano e não divino) e a futura ortodoxia nicena, a que viríamos a chamar mais tarde «catolicismo». Esconde também diferenças étnicas e culturais entre os herdeiros da Hispânia romana nas suas diversas províncias, onde se incluíam a Lusitânia e a Gallaecia no território hoje português, bem como os povos germânicos como os suevos, que tinham o seu reino independente no noroeste peninsular, e os visigodos, que tinham chegado a este lado dos Pirenéus como confederados do Império Romano. E esconde ainda a existência de colónias «bizantinas», do Império Romano do Oriente, no sudeste da Península. Está também escondida a existência de pagãos rurais e de comunidades judaicas. Esta é uma época misteriosa, é justo dizê-lo.

Paulo Almeida Fernandes

Paulo Almeida Fernandes (Lisboa, 1974) doutorou‑se em História da Arte pela Universidade de Coimbra (2017), com a tese Matéria das Astú­rias. Ritmos e realizações da expansão asturiano‑leonesa pelo actual centro de Portugal (séculos VIII‑X), tendo concluído mestrado em Arte, Património e Restauro (2002) e licenciatura em História, Variante de História da Arte (1997) na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Membro integrado do Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património (Universidade de Coimbra) e colaborador do Ins­tituto de Estudos Medievais (Universidade Nova de Lisboa), tem centrado a sua investigação na história da alta Idade Média, nos «caminhos de San­tiago» em Portugal e na história de Lisboa. Foi relator da proposta para a inclusão dos Caminhos Portugueses de Peregrinação a Santiago de Com­postela na lista indicativa de Património Mundial apresentada por Portugal (2015).