AÇORES NA POLÍTICA INTERNACIONAL - Tinta da China

A história da evolução do papel estratégico e militar assumido pelos Açores, com destaque para a intervenção do arquipélago em áreas-chave da ciência e da tecnologia.

«Os Açores encontram-se no ponto de intersecção, presente e futura, das influências europeias e norte-americanas, que são actualmente de cooperação mas que podem vir a ser de competição e de disputa. Já se observa uma espécie de isóbare atmosférica que se desloca, por enquanto, no sentido contrário ao do das massas de ar, e que se pode simbolizar nos meios de rastreio geodésico pelo Global Positioning System (GPS), de origem americana, ou pelo projecto europeu Galileu. Ora, as ilhas dos Açores vão ser procuradas para fornecer ‘facilidades’, como as de Santa Maria para a Agência Espacial Europeia, ou a estação internacional de infra-sons na Graciosa. Também as Flores e S. Miguel se preparam para receber as novas estações de radioastronomia e geodesia, numa parceria com o Instituto Geográfico de Espanha. Basta sublinhar aqui que os Açores, no futuro, poderão constituir um centro de pesquisa científica e tecnológica de grande importância mundial, sobretudo nos domínios da interacção entre o oceano e a atmosfera.
Mas para que o interesse científico, tecnológico, e ainda militar, não repita o modelo das zonas de influência típicas do modelo novecentista anterior, é preciso que o poder político nacional continue a trabalhar no sentido de uma verdadeira coesão inter-ilhas, o que só se conseguirá com um desenvolvimento económico harmonioso, e uma equitativa representação política das ilhas no governo da autonomia.
Por fim, uma referência à necessária preparação da qualidade do elemento humano, adquirida pela instrução, pela aprendizagem e pela cultura. Por muito que a geografia impere, é o espírito humano que a compreende e a utiliza.»

— José Medeiros Ferreira

José Medeiros Ferreira

José Medeiros Ferreira nasceu (1942-2014) fez os seus estudos primários e secundários na Ilha de S. Miguel, Açores. Cursou Filosofia em Lisboa, na Faculdade de Letras, tendo sido expulso de todas as universidades portuguesas em 1965, devido ao seu activismo contra o regime salazarista.
Licenciou-se em História, em 1972, na Universidade de Genebra, ano em que foi convidado para docente daquela universidade suíça, tendo sido galardoado com o Prémio Gustave Ador.
Depois da queda da ditadura, regressou a Portugal, onde desempenhou o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros (1976-1977). Doutorou-se em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde foi professor.
Escreveu, entre outras obras, Ensaio Histórico sobre a Revolução de 25 de Abril – o Período Pré-Constitucional (1983); Portugal na Conferência de Paz (1992); O Comportamento Político dos Militares, Forças Armadas e Regimes Políticos (1992); Portugal em Transe (Vol. VIII da História de Portugal, orientada por José Mattoso, 1995) e Cinco Regimes na Política Internacional (2006).
Foi também ensaísta, comentarista e cronista político, com vasta colaboração na imprensa. Foi deputado à Assembleia Constituinte, à Assembleia da República (em várias legislaturas), ao Parlamento Europeu e ao Conselho da Europa.
O Estado português condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique e da Ordem da Liberdade.