
«Alguma Coisa Negro (1986) é um in memoriam dedicado à artista canadiana Alix Cléo Roubaud, falecida aos 31 anos com uma embolia pulmonar. O seu viúvo, Jacques Roubaud, enfrenta uma afasia depressiva, e inventa fórmulas elegíacas que não as tradicionais (‘evocação, imprecação, futuro anterior’). A linguagem quer ir muito além de um banal ‘onde estás?’, ao mesmo tempo que contesta a incomunicabilidade entre emoção e experimentalismo. Em nove sequências com nove poemas de nove estrofes (herança das matemáticas, que o poeta estudou e ensinou, e dos constrangimentos formais tão apreciados pela confraria OuLiPo), o monólogo transforma-se em diálogo virtual, hipotético. Roubaud formula proposições teóricas, meditações melancólicas, enquanto concebe outros mundos, possíveis ou ficcionais. A vida continua, a escuridão continua. E continua tudo o que Alix deixou: cartas, diários, gravações, fotografias, auto-retratos. Imagens materiais e imagens mentais que unem os vivos e os mortos ou que os afastam mais ainda.»
— Pedro Mexia
«A morte de quem se ama não nos transformará em massa informe. Uma recusa, portanto. E é essa proeza, esse heroísmo primeiro que observamos em Alguma Coisa Negro, de Jacques Roubaud.»
— Gonçalo M. Tavares, Prefácio
EDIÇÃO BILINGUE, TRADUÇÃO DE JOSÉ MÁRIO SILVA
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud nasceu em 1932, em Caluire-et-Cuire (região Ródano-Alpes). Matemático, deu aulas nas universidades de Rennes e de Paris, e ensinou poesia na École des hautes études en sciences sociales. Doutorou se com uma tese sobre o soneto francês, orientada por Yves Bonnefoy.
Poeta, publicou, entre muitos outros, Trente et un au cube (1973), Alguma Coisa Negro (1986), La pluralité des mondes de Lewis (1991), La forme d’une ville change plus vite, hélas, que le coeur des humains (1999), Je suis un crabe ponctuel. Anthologie personnelle 1967-2014 (2016).
Traduziu os trovadores medievais, poesia japonesa clássica, poetas americanos contemporâneos. Editou La Vieillesse d’Alexandre (1978), «ensaio sobre alguns estados recentes do verso francês», pastiches de romances policiais como A Bela Hortense (1985), e vários volumes de autobiografia ficcionada reunidos em Le Grand Incendie de Londres (2009). É membro do Ouvroir de littérature potentielle (OuLiPo), a que pertenceram os seus amigos Raymond Queneau e Georges Perec. Venceu o Grande Prémio Nacional de Poesia e o Grande Prémio de Literatura da Academia Francesa.