
«Andar a par, perder da mão, entregar a quem, seguir para onde: estes 23 poemas, dedicados por um pai à sua filha, convocam todo o universo familiar e afectivo do sujeito poético, presentificando o passado e antecipando uma ideia de futuro. Encontramos nesta sequência a angústia urbana, o mundo torpe, o desânimo que parece insuperável; mas também a quase inocência de férias e ócios em pinhais e areais, pequenas epopeias, vislumbres de uma vita nuova. José Ricardo Nunes procura a palavra adequada mas debate-se com o espectro da inadequação. Escolhe por vezes um registo narrativo, outras vezes ensaia odes meditativas, canções líricas mas suspicazes, anotações prosaicas mas elípticas. Em todos os casos, Andar a Par faz perguntas desconfortáveis sobre a fuga ao cinismo, a utilidade da literatura e o porquê das coisas. Herberto despediu-se dizendo: «filhos não te são nada, carne da tua carne são os poemas»; mas que verdade tem um verso terrível como esse? E que verdade têm outros, aqui citados, de Ruy Belo e de Cesariny, passando pela carta de Jorge de Sena a seus filhos?»
— Pedro Mexia
José Ricardo Nunes
José Ricardo Nunes nasceu em Lisboa, em 1964. Vive em Caldas da Rainha. É licenciado em Direito e mestre em Cultura e Literatura Portuguesas.
Rua 31 de Janeiro — Algumas Vozes (& etc, 1998) foi o seu livro de estreia na poesia, ao qual se seguiram Na Linha Divisória (Campo das Letras, 2000), Novas Razões (Gótica, 2002) e, todos publicados pela Deriva, Apócrifo (2007), Versos Olímpicos (2008) e Compositores do Período Barroco (2013).
Em prosa, publicou Alfabeto Adiado (Deriva, 2010), Uma Viagem à Costa Rica (edição do autor, 2010) e Confissões (Companhia das Ilhas, 2013).
No domínio do ensaio e da crítica literária, tem colaborado nas revistas Relâmpago e Colóquio/Letras; em volume, publicou Um Corpo Escrevente — a Poesia de Luiza Neto Jorge (& etc, 2000) e Nove Poetas para o Século XXI (Angelus Novus, 2002).
Andar a Par é o seu primeiro livro na Tinta-da-china.