
«Fernando Luís Sampaio, poeta essencial dos anos 1980, não publicava há década e meia. Aprender a Cantar na Era do Karaoke reúne os cinco livros editados entre 1983 e 2005 e acrescenta-lhes um conjunto inédito, Roubar o Fogo, que mantém um registo definido por Joaquim Manuel Magalhães como ‘abstracção realista’. Esquiva, alheia a confessionalismos, esta poesia está ainda assim do lado da vida, em especial a vida dos afectos ‘torcionários’ e a vida do desejo, comparado a um ‘chacal’. Imagéticos e metonímicos, os poemas fazem referências intensas mas enigmáticas, e um sujeito magoado ou sarcástico enuncia, em toca-e foge, inquietudes, ardis, engates, labaredas, eclipses, enganos, abismos. Urbanos, cosmopolitas, os poemas procuram o que pode sobreviver à ‘escória dos instantes’, o amor, talvez, embora o amor seja uma ‘longa / escadaria sem patamares / ou portas possíveis’. É frequente que os poemas evoquem histórias terminadas, ou fragmentos dessas histórias, e os mais recentes lembram a importância das canções (líricas, derrotadas, cínicas), as canções que nos acompanham, ‘deserdados do romantismo’ que somos, mas também as canções que insistimos em cantar, contra o artificialismo lúdico do karaoke e a feroz indiferença do tempo.»
— Pedro Mexia
Fernando Luís Sampaio
Fernando Luís Sampaio nasceu em Quelimane, Moçambique, em 1960. É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Lisboa.
Estreou-se com o livro Conspirador Celeste (D. Quixote, 1983), que venceu o Prémio Revelação da APE, ao qual se seguiram Hotel Pimodan (Frenesi, 1987), Sólon (INCM, 1987), Escadas de Incêndio (Quetzal, 2000) e Falsa Partida (Assírio & Alvim, 2005). Está traduzido em francês, espanhol, italiano, inglês e croata.
Foi director do Festival Mergulho no Futuro (Expo ’98) e do Instituto Português das Artes do Espectáculo. É consultor para a dança, teatro e músicas plurais no Centro Cultural de Belém.