ATIRAR PARA O TORTO - Tinta da China
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PRIMEIRO LIVRO DE MARGARIDA VALE DE GATO NA COLECÇÃO DE POESIA DA TINTA-DA-CHINA

O formalismo informal de Atirar para o Torto é uma constante surpresa. Imaculadamente construídos e medidos, com a linguagem mais exigente e mais adequada, frontais mesmo se esquivos, os poemas assumem a vontade de ir aonde lhes apetece, por caminhos direitos ou ínvias veredas. Os amantes e os amigos, incluindo os poetas amigos, aparecem em diversos momentos, tal como Lisboa e o litoral alentejano, as querelas ocidentais e a emergência climática, os enfrentamentos e afrontamentos da meia-idade; mas o mesmo rigor sintáctico e a mesma fantasia vocabular acompanham as viagens de comboio, os cigarros e outros vícios, os cravos esmaecidos, a América sombria, a infância televisiva, o «Tu» em maiúsculas. Ou as mulheres, umas ao mar, outras em terra: uma antiga professora de piano, a filha e a sua geração, a arte de perder em Elizabeth Bishop (e o que se recupera na Feira da Ladra), as consoantes de Sophia de Mello Breyner, as amargas autobiografias de Luísa Neto Jorge. Uma poesia da circunstância, talvez, mas que questiona a circunstância, a transcende, a vira do avesso: «é por metáfora / que me comovo e tanto do que vivo / é material de imagens que recolho».
— Pedro Mexia

Margarida Vale de Gato

Margarida Vale de Gato nasceu em Vendas Novas em 1973. Traduz, escreve, é professora auxiliar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigadora no Centro de Estudos Anglísticos da mesma instituição. Transpôs para português Henri Michaux, Nathalie Sarraute, W.B. Yeats, Charles Dickens, Mark Twain, Marianne Moore, Jack Kerouac, Sharon Olds, Louise Glück, entre outros autores. Doutorou-se em 2008 com uma tese sobre a recepção de Edgar Allan Poe na lírica portuguesa da segunda metade do século XIX. Tem publicado ensaios dentro das suas áreas de especialidade, como Translated Poe e Anthologizing Poe (co-organização com Emron Esplin, 2014 e 2020). Na sua obra literária, contam-se o livro de poesia Lançamento (2016), a peça de teatro Desligar e Voltar a Ligar (com Rui Costa, 2011) e Mulher ao Mar. Este último é um projecto poético com actualizações periódicas: Mulher ao Mar Retorna (2013) e Mulher ao Mar e Grinalda (2018); Mulher ao Mar Brasil (2021) é a sua primeira encarnação transatlântica.