
O GRANDE CLÁSSICO DE JOÃO ABEL MANTA DE VOLTA ÀS LIVRARIAS
Lançado originalmente no Natal de 1978 pelas Edições O Jornal, Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar foi o primeiro livro totalmente do seu autor, já então ilustrador e cartoonista de referência.
Livro-testemunho da excelência a vários níveis de João Abel Manta, representou, ao mesmo tempo, o regresso do celebrado desenhador desde o fim do Período Revolucionário em Curso, uma afirmação artística, uma prova de resistência política e um testamento pessoal e geracional. E, acima de tudo, um acerto de contas definitivo com a memória de Salazar e do seu regime. Foi e continua a ser tudo isso — agora reeditado tal como existiu na sua ambiciosa primeira edição, porque é essencial que o trabalho de João Abel Manta continue vivo também nas livrarias.
«Entre essas duas séries, desfilam as dezenas de patéticas, sinistras, grotescas figuras que representam os Anos de Salazar, mas também séries de figuras míticas ou históricas que o Estado Novo envolveu no seu manto de propaganda (Camões, Santo António, Nossa Senhora de Fátima), momentos definidores do regime no seu início, como a Guerra Civil de Espanha, ou, em particular, uma sequência de três séries (Detenção, Interrogatório e Segredo) em que Manta, o antigo preso político, investiu as suas próprias memórias de Caxias em 1948. […] Tal como Goya e Grosz, Manta revelou aqui uma rara capacidade de análise de um tempo e de uma geografia cultural e, sobretudo, de a transformar num objecto de pura expressão pessoal, investindo toda a sua mestria técnica.»
– Pedro Piedade Marques, no Posfácio inédito incluído nesta edição
João Abel Manta
Nascido em Lisboa, em 1928, João Abel Manta foi filho único de dois pintores (Abel Manta e Clementina Carneiro de Moura). Inscrito na Escola de Belas Artes de Lisboa em 1945, o artista compromete logo o seu desenho às suas convicções políticas de oposicionista ao Estado Novo e a Salazar: enfileirando no MUD Juvenil, oferece um desenho alusivo ao Natal de 1947, cuja reprodução e venda reverterá para o apoio a membros do MUD entretanto presos. A sua é a geração que espera, com a derrota das forças do Eixo na Segunda Guerra Mundial, a capitulação do regime de Salazar. O activismo político valer-lhe-á a prisão em Fevereiro de 1948, com duas semanas passadas em Caxias, e uma ficha nos arquivos da PIDE.
Formando-se brilhantemente como arquitecto nas Belas-Artes, teve importante actividade no domínio da arquitectura a partir do início da década de 1950, que abandonaria progressivamente em favor das artes plásticas, destacando-se como o maior cartoonista português e um dos melhores ilustradores portugueses das décadas de 1960 e 1970. Nos anos anteriores e posteriores ao 25 de Abril de 1974, publicou regularmente, em jornais de grande tiragem (tais como Diário de Lisboa, Diário de Notícias, O Jornal ou Jornal de Letras, tendo sido o primeiro director de arte deste último), trabalhos relacionados (criticamente) com a situação político-social portuguesa.
Tem dois álbuns editados: Cartoons, 1969-1975 (1975) e o célebre Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar (1978).