CARTAS DO SAHARA - Tinta da China
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ALBERTO MORAVIA, O AUTOR QUE INICIOU A COLECÇÃO DE LITERATURA DE VIAGENS, ESTÁ DE VOLTA COM UMA VIAGEM POR ÁFRICA

África foi talvez o território que Alberto Moravia mais acarinhou na sua escrita de viagens. A subida do rio Zaire, a crua luz tropical da Costa do Marfim, a vida e a morte no deserto, tribos e aldeias no Quénia feridas pelo colonialismo, a floresta inexpugnável, a infinita savana — todas são personagens intensas desta sua descoberta literária, estética e antropológica.

«Alberto Moravia diz que não se viaja no espaço, mas no tempo. Nuns casos para o futuro, como ao visitar os Estados Unidos, noutros em direcção ao passado, como quando o destino são certos lugares onde o tempo medieval ainda não se extinguiu. O deserto, conclui Moravia, é outra coisa: ‘até agora ainda não me acontecera fazer uma viagem fora do tempo, isto é, fora da história, numa dimensão, como dizer?, a-histórica, religiosa.’»
— Carlos Vaz Marques, Prefácio

Alberto Moravia

Alberto Moravia, pseudónimo de Alberto Pincherle, nasceu em Roma, em 1907, numa família próspera de classe média. Ainda criança, adoeceu com tuberculose óssea, tendo passado, ao todo, cinco anos em sanatórios e em casa, entre os 9 e os 17 anos de idade. Talvez este isolamento, que fomentou a voracidade da leitura, explique a precocidade literária do escritor. Colaborou em jornais, ainda muito jovem, e com 22 anos publicou o seu primeiro romance – «Os Indiferentes» – que teve um grande impacto na atmosfera literária italiana da época. Para tal contribuiu o pendor marcadamente antifascista e antiburguês da obra, no contexto de uma Itália que acabara de assistir à assinatura da concordata entre Benito Mussolini e o Vaticano. Aliás, rapidamente as obras de Moravia viriam a ser proibidas pelo regime ditatorial e colocadas no Índex do Vaticano, por atentarem contra os valores morais e os bons costumes. Por ser oriundo de família judaica e militante de esquerda, viveu nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1941 casou com Elsa Morante, também escritora, e o casamento manteve-se durante quase 20 anos. Regressou à Itália após o conflito e retomou a militância, ao mesmo tempo que aumentava o seu prestígio além-fronteiras e que várias obras suas eram adaptadas ao cinema por grandes cineastas, como Bernardo Bertolucci («O Conformista») e Jean-Luc Godard («O Desprezo»). Em 1961 fez uma viagem pela Índia, acompanhado pela mulher e por Pier Paolo Pasolini. Desta viagem resultaram os textos que compõem «Uma Ideia da Índia». Alberto Moravia morreu em Roma, em 1990.