COLOSSO DE MAROUSSI - Tinta da China
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«Eu tinha caminhado com os olhos vendados, em passos cambaleantes, hesitantes; era orgulhoso, arrogante, satisfeito com a vida falsa e limitada de homem da cidade; a luz da Grécia abriu-me os olhos, penetrou os meus poros, fez todo o meu corpo dilatar-se. Descobri a minha pátria.»
— Henry Miller

Sendo aquele que Henry Miller considerava como o seu melhor livro, O Colosso de Maroussi desaconselha-se vivamente aos adeptos da temperança, aos sensatos de todas as modalidades de sensatez, aos praticantes do equilíbrio e da constância. Quase tudo neste livro é hiperbólico, no sentido em que a hipérbole é capaz de exprimir uma entrega sem reservas, um desvario consciente e entusiasmado. Acompanhado pelo amigo Lawrence Durrell, e entre dias ao relento na praia, atropelados por rebanhos de ovelhas, noites em pensões decadentes mas carregadas de história, em aldeias com um único forno para toda a população, e peregrinações à Acrópole de Atenas, Miller descobriu na Grécia o sentido da civilização.
O Colosso de Maroussi é uma epifania. Nele se descobre o que há de primordial na ligação entre os homens e os deuses, entre a sensibilidade humana e uma forma laica de transcendência. A Grécia, aos olhos de Miller, é o espaço onde se ligam esses fios que unem passado e presente, transcendência e imanência.

Henry Miller

Henry Miller nasceu em Manhattan, Nova Iorque, em 1891. Um dos grandes mestres da literatura americana do século XX, escreveu mais de 36 obras.
A família de Henry Miller mudou-se para Brooklyn ainda no ano de 1891, e aí ele passou a sua infância. Em 1909, Miller entrou para o nova-iorquino City College, acabando por frequentar a universidade apenas durante dois meses. Enfadado com a rotina académica, trabalhou em diversas áreas: foi motorista de táxi, revisor no Chicago Tribune e também bibliotecário, por exemplo. Em 1917, casou-se com Beatrice Sylvas Wickens, a primeira das suas cinco mulheres. Foi por esta altura que começou a sua carreira literária. Em 1930, Miller mudou-se para Paris, onde viveu durante quase dez anos e onde manteve o célebre relacionamento tórrido com a escritora Anaïs Nin. Quando escreveu Trópico de Câncer (1934), o seu livro mais famoso, Henry Miller entrou definitivamente no círculo literário da época. Na altura de Trópico de Capricórnio (1939), já conquistara o seu estatuto nas letras. A publicação e a circulação destes livros foram censuradas nos Estados Unidos ao longo de 30 anos, devido ao seu conteúdo sexual explícito.
Em 1939, Miller abandonou Paris e decidiu aceitar o convite do escritor e amigo Lawrence Durrell para que o visitasse na Grécia, onde passou seis meses, na época em que a Segunda Guerra Mundial eclodia na Europa. Aí escreveu O Colosso de Maroussi, considerado por diversos críticos e pelo próprio como a sua melhor obra literária. Devido à conjuntura bélica que se vivia, Miller regressou aos Estados Unidos antes do previsto. Anos mais tarde, no início da década de 1960, depois de passar um ano em viagem pela Europa, Miller fixou-se na Califórnia, abandonou a prática de escrever diariamente e substituiu-a pela de pintar. Os últimos 20 anos da sua vida foram solitários e pacatos.
Henry Miller morreu em 1980, na sua casa de Pacific Palisades, Los Angeles.