DESCULPEM TOCAR NO ASSUNTO - Tinta da China
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COLECTÂNEA QUE REÚNE AS MELHORES CRÓNICAS DE RUBEM BRAGA, UM AUTOR MAIOR QUE DEDICOU TODA A VIDA A ESTA ARTE

«Vocês desculpem tocar nesse assunto, mas a verdade é que está morrendo muita gente. […] Eu e um amigo estivemos imaginando uma Cidade dos Mortos que funcionasse mais ou menos como esta em que vivemos: uma cidade em que estivessem vivendo os mortos nossos conhecidos, os nossos mortos. Tinha muita gente, e gente ótima; é verdade também que alguns chatos; isso faz parte.»

Neste começo da crónica que dá título à antologia já se encontra uma síntese impecável da arte da crónica de Rubem Braga. Sendo eminentemente jornalística, no sentido de se escrever para publicação imediata, nela predomina a orientação para a actualidade da prática da vida, a banal e quotidiana, mas também a política, cultural, boémia. E também caracterizada por uma liga rara de humor e ternura, que a torna legível e fascinante, qualquer que seja o facto a que se refere, o assunto (ou o nenhum assunto) de onde sempre provém a surpresa e o encanto da leitura.

OS MELHORES DELES TODOS
A literatura brasileira pode dividir-se em duas linhagens de escritores: a dos que se integram no movimento para dar aos brasileiros uma literatura a que possam chamar «nossa», e a dos que aderem ao ideal de uma literatura que faz estrangeiro quem a reconheça como sua. Esta «biblioteca concisa» é uma muitíssimo selecta representação do segundo grupo. Os melhores deles todos, precisamente.

Colecção dirigida por Abel Barros Baptista e Clara Rowland.

Rubem Braga

Rubem Braga (1913-1990) nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, estado do Espírito Santo. Em 1928 já escrevia crónicas no Correio do Sul, jornal da cidade natal, propriedade dos irmãos. Supõe-se que desde então não mais largou o jornalismo, que exerceu em praticamente todas as modalidades, incluindo repórter policial e correspondente de guerra nos finais da Segunda Guerra Mundial. Em 1964 fundou, com Fernando Sabino, uma cooperativa de autores, a Editora do Autor, e pouco depois a Editora Sabiá, que publicou os principais escritores brasileiros de então: Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Clarice Lispector, João Cabral de Melo, além de notáveis cronistas dessa altura como Paulo Mendes Campos ou Stanislaw Ponte Preta. A singularidade de Rubem Braga é ser reconhecido como um dos grandes escritores brasileiros apenas escrevendo e publicando crónicas em jornais e revistas e ter-se tornado o paradigma desse género variado e difícil, a que não faltaram notáveis praticantes como Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade ou Clarice Lispector.