
O’Neill dizia que não era avesso a entrevistas, mas a verdade é que nem sempre foi fácil fazer-lhe uma. Mais fácil terá sido conversar sem plano prévio. Fernando Assis Pacheco conta-nos que era «tão bom conversador como sovina nas respostas dactilografadas». As entrevistas reunidas neste volume abrangem um período temporal significativo: de 1944 a 1985. Nelas fala-se do surrealismo português, do qual O’Neill se afastou, mas que também não deixou de elogiar; fala-se de Portugal, uma das suas preocupações mais constantes (antes e depois do 25 de Abril); fala-se do famoso «Há mar e mar, há ir e voltar», que lhe devia ter rendido uma fortuna em direitos de autor, e das participações polémicas em programas de televisão. Falando de tudo isto, não deixa nunca de se falar da poesia, a melhor forma que arranjou para comunicar.
«As entrevistas de O’Neill são paratextos significativos para a configuração da sua personalidade literária e convidam à releitura da sua poesia e das várias crónicas que publicou. Nestes diálogos entre entrevistador e entrevistado, é perceptível a coincidência entre projecto poético e forma de vida, sendo possível, aliás, imaginar no futuro uma edição da obra de Alexandre O’Neill — e não seria caso único, claro — que contemplasse vários dos comentários que foi deixando nas entrevistas.» — da Introdução
EDIÇÃO, ORGANIZAÇÃO E INTRODUÇÃO: Joana Meirim