DO CHIADO A VENEZA - Tinta da China
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A REDESCOBERTA DE UM DOS CRONISTAS PORTUGUESES MAIS LIDOS NO SÉCULO XIX

Júlio César Machado ruma a Veneza em vésperas da Terceira Guerra da Independência italiana (1866). Ao cronista em viagem, contudo, a convulsão política pouco interessa. Aquilo que o move são as pessoas e as artes, frequentando teatros e rendendo-se ao sentimento musical dos italianos. As crónicas e efabulações desta viagem – um bestseller no seu tempo – fizeram as delícias dos leitores oitocentistas, e é de elementar justiça dá-las a conhecer ao século XXI.

«O tempo, admirável escultor e implacável carrasco, fez triunfar sobre Júlio César Machado nomes de outra envergadura, desde logo o de Camilo Castelo Branco, de quem foi amigo e que lhe elogiava ‘a clara e fluente linguagem’ e as ‘ironias e remoques comedidos’, que lhe deram ‘um bem ganhado e soado nome’. A ligeireza de crónica de costumes – antecessora, senão pelo estilo ao menos pela atitude, de cronistas cujos nomes nos são tão familiares hoje mas que escrevem mais para o presente do que para o futuro – dá uma aragem de frescura a um livro tão irremediavelmente (e deliciosamente) datado como este.»
— Carlos Vaz Marques

Júlio César Machado

Júlio César da Costa Machado (Lisboa, 1835-1890) nasceu numa família de posses e conviveu desde cedo, pela mão do pai, no meio literário e teatral lisboeta. Foi jornalista, tradutor, autor de romances, contos e peças de teatro, destacando-se como um dos mais célebres folhetinistas e cronistas do seu tempo. Publicou o seu primeiro romance, Estrela d’Alva, com apenas 14 anos, na revista A Semana, de Camilo Castelo Branco, de quem se tornaria amigo íntimo. O seu pai morreu em 1852, deixando-lhe dívidas que o obrigaram a obter, desde jovem, rendimento da escrita. Tornou-se tradutor, folhetinista, cronista, colaborando em dezenas de periódicos: A Revolução de Setembro, Revista Universal Lisbonense, Diário de Notícias, Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, Revista Ocidental, Ilustração Portuguesa, Eco Literário, este último co-fundado por si em 1886. Os seus textos eram simultaneamente populares e apreciados pelos pares, que lhe admiravam o humor, o estilo coloquial e ligeiro, a atenção aos temas do quotidiano. Publicou vários livros, nomeadamente Cláudio (1952), A Vida em Lisboa (1958), Contos ao Luar (1861), Cenas da Minha Terra (1862) e Contos a Vapor (1863). Muitos dos seus folhetins e crónicas de viagem, entre os quais Do Chiado a Veneza, foram reunidos em volume. Em 1890, na sequência do suicídio do seu filho único, Júlio César Machado pôs termo à vida.