ENTREVISTAS DA PARIS REVIEW 2 - Tinta da China
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Segundo volume de entrevistas da histórica revista literária: Eliot, Pound, Céline, Pinter, Nabokov, Bishop, Roth, Yourcenar, Murdoch, Levi, Jan Morris e Didion.

«Em meados dos anos cinquenta, um grupo de jovens intelectuais americanos criou uma revista chamada The Paris Review. Os seus autores dificilmente terão tido a percepção de que estavam a fazer nascer uma abordagem nova à literatura e à arte da escrita e de que, por outro lado, se constituiria a partir dali o mais extraordinário arquivo do fascínio que uma entrevista literária pode alcançar.»
— Carlos Vaz Marques

T.S. Eliot foi entrevistado em 1959, Joan Didion, em 2006 — entre os dois, decorrem 47 anos e algumas das mais drásticas mudanças na literatura contemporânea. A selecção para este volume baseou-se na indiscutível importância de cada um dos autores, bem como na qualidade literária da entrevista propriamente dita. Romancistas, poetas e dramaturgos, europeus e americanos, dois prémios Nobel da Literatura (T.S. Eliot em 1948; Harold Pinter em 2005), vários mundos privados para conhecer.

T.S. Eliot — «Uma coisa por acabar é uma coisa que mais vale eliminar. É melhor, se houver algum fundo bom naquilo que eu possa usar noutro lado, deixá‑la na cabeça do que num papel numa gaveta. Se a deixar numa gaveta, permanece a mesma, mas, se está na memória, transforma-se noutra.»

Ezra Pound — «A técnica é o teste da sinceridade. Se uma coisa não merece que se encontre a técnica para a dizer, então é de valor inferior.»

L.F. Céline — «Chegará o tempo de toda a gente fazer uma cura de modéstia. Na literatura como em tudo o resto. (…) Não há nada a fazer senão uma tarefa e calarmo‑nos. É tudo. O público presta atenção ou não, lê ou não, e isso é com ele. O autor só tem de desaparecer.»

Harold Pinter — «Para mim, tudo tem que ver com forma, estrutura e unidade global. Esta festa toda dos happenings e dos filmes de oito horas é muito divertida para quem nela participa, de certeza.»

Vladimir Nabokov — «Não é o meu sentido de imoralidade da relação entre o Humbert Humbert e a Lolita que é forte; é o sentido do Humbert. Ele preocupa-se, eu não. Eu estou‑me nas tintas para a moral pública.»

Elizabeth Bishop — «Por muito modestos que nos consideremos ou por muito menores que julguemos que somos, tem de haver um terrível problema de ego algures, para que nos disponhamos a escrever poesia. Nunca o senti, mas ele tem de existir.»

Philip Roth — «Aqui, nada me põe louco, e alguém tem de enlouquecer um escritor, para que este consiga ver melhor. Um escritor precisa dos seus venenos. O antídoto para os seus venenos é, muitas vezes, um livro.»

Marguerite Yourcenar — «Todos os meus livros estavam concebidos quando cheguei aos vinte anos, embora só viessem a ser escritos nos trinta ou quarenta anos seguintes. Mas talvez isto seja também verdade para a maioria dos escritores — o armazenamento emocional é feito desde muito cedo.»

Iris Murdoch — «Acima de tudo, tem de se reflectir nos valores, na moralidade, nos dilemas morais delas. Não se pode escrever um romance sem insinuar valores. Não se pode escrever um romance tradicional ser dar às personagens problemas e juízos morais.»

Primo Levi — «É muito raro que a nossa imagem pessoal coincida com a que é descrita por um observador. Mesmo se for mais bonita, a imagem no livro não é a mesma. É como se nos olhássemos ao espelho e descobríssemos uma cara mais simpática do que a nossa, mas que não é nossa.»

Jan Morris — «Desenhei uma linha imaginária e metafórica entre duas cidades, Budapeste e Bucareste. Todas as cidades acima dessa linha se classificam como o que me parecem ‘grandes cidades’, e todas as que ficam abaixo da linha podem ser interessantes, mas não pertencem à mesma categoria. Portanto, resolvi que, antes de morrer, ia visitar e escrever sobre todas as cidades acima da linha de Bucareste.»

Joan Didion — «Embora um romance tenha lugar no grande mundo, há sempre um impulso nele que é inteiramente pessoal — mesmo que não o saibamos enquanto o fazemos. Os romances também são sobre coisas que temos medo de não conseguir aguentar.»