EXEMPLOS - Tinta da China
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O maior poeta africano de língua portuguesa, nunca antes publicado em Portugal.
Selecção e posfácio de Osvaldo Manuel Silvestre.

«Tomando emprestada ‘a cultura dos outros’, o cabo-verdiano João Vário construiu durante quatro décadas uma sequência poética de grandes odes, elaboradas em várias cidades africanas e europeias. Babel de referências cultas, de Aristóteles a Dostoievski, de Plotino a Ginsberg, Exemplos lembra os Cantos de Pound, “cânone ocidental” com o qual Vário, cidadão do mundo, se mede. Recusando noções estritas de nação e raça, o poeta assume um discurso gloriosamente inactual, abstracto, cumulativo, exclamativo, esquivo a circunstancialismos (‘quem tudo vê pouco interpreta’). Poema metafísico sem metafísica, Exemplos traz da Bíblia certas imagens, vocábulos e personagens, bem como algumas exortações e profecias. Vário escreve sobre ‘o homem’ e dirige-se ‘aos homens’, quer dizer, à espécie humana, numa linguagem exigente que traduz temas elevados, como a soberania do verbo, a substância do tempo, o exílio enquanto destino e a precariedade das criaturas, do zigoto à morte. Uma poética de dimensão universal, injustamente esquecida.», Pedro Mexia 

João Vário

João Manuel Varela, que viria a ser conhecido pelo pseudónimo João Vário, nasceu em 1937, no Mindelo, Cabo Verde. Fez aí os estudos primários e secundários, tendo depois estudado Medicina em Coimbra e Lisboa, antes de se exilar na Bélgica, dedicando-se à investigação no domínio do cérebro na Universidade de Antuérpia, cidade onde viveu 33 anos.
Estreou-se, em 1958, com Horas sem Carne, que viria a excluir da sua obra. Em 1966, editou Exemplo Geral, volume inicial de uma série planeada para um total de 12 volumes e de que de facto sairiam nove: Exemplo Relativo (1968), Exemplo Dúbio (1975), Exemplo Próprio (1980), Exemplo Precário (1981), Exemplo Maior (1985), Exemple restreint (1989), Exemple irréversible (1989) e Exemplo Coevo (1998). A série viria a ser reunida num volume intitulado «Exemplos. Livros 1-9» (2000).
Nos anos 70, um outro pseudónimo surgiria, Timóteo Tio Tiofe, autor dos poemas de intenção épica Os Livros de Notcha, e, a partir dos anos 80, surgiria G. T. Didial, autor de ficção.
João Vário regressou de vez à terra natal em 1998, vindo a falecer no Mindelo em 2007.