
AS CRIANÇAS QUE FICARAM EM ÁFRICA: UMA HISTÓRIA DA GUERRA COLONIAL
Chamavam «resto de tuga» a Fernando e ele não percebia porquê, até ao dia em que descobriu que era filho de um português que combatera na Guiné. Procurou o pai pelo nome que achava que ele tinha, o único nome que a sua mãe decorou: furriel. Uma patente militar é pouco, mas Fernando não desiste.
A história de Fernando repete-se com outros nomes: o de Óscar, sovado todos os dias pelo padrasto, por ter nascido com a pele mais clara; o dos gémeos Celestina e Celestino, que guardam, aos 40 anos, a fotografia desbotada de um jovem militar que não quer conhecê-los. Não se sabe o número de casos, porque estas contas nunca se fizeram.
Catarina Gomes partiu para África levando na mala um dos maiores tabus entre os militares portugueses: os filhos da guerra, crianças que ficaram para trás (em Angola, Moçambique e na Guiné-Bissau) quando terminou o conflito e que há anos buscam uma identidade perdida, sem que o próprio Estado português reconheça a dimensão desta realidade. Esta é a primeira vez que se conta a sua história.
Catarina Gomes
Catarina Gomes nasceu em Lisboa, em 1975. É autora de três livros de não-ficção e do romance Terrinhas, vencedor do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís.
Em Furriel não É Nome de Pai quebrou um tabu, contando a história dos filhos que os militares portugueses tiveram com mulheres africanas durante a Guerra Colonial e que deixaram para trás. Em Pai, Tiveste Medo? aborda a forma como a experiência do conflito chegou à geração dos portugueses filhos de ex-combatentes.
Coisas de Loucos conta as vidas de oito doentes psiquiátricos a partir de objectos pessoais que estes deixaram para trás no antigo Manicómio Miguel Bombarda. Às reportagens que estiveram na origem do livro, realizadas no âmbito de uma Bolsa de Investigação Jornalística da Fundação Calouste Gulbenkian, foi atribuído o Prémio de Jornalismo da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental. As três obras de não-ficção estão integradas no Plano Nacional de Leitura.
Jornalista do Público durante quase 20 anos, recebeu alguns dos prémios nacionais mais importantes da área, como o Gazeta. A nível internacional, foi duas vezes finalista do Prémio de Jornalismo Gabriel García Márquez e recebeu o Prémio Internacional de Jornalismo Rei de Espanha.