UMA IDEIA DA ÍNDIA - Tinta da China
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Mais do que relatar as peripécias e curiosidades da viagem que fez pela Índia no ano de 1961, Moravia procura determinar a essência da cultura indiana.

«Quando Alberto Moravia percorre a Índia, em 1961, é um escritor famoso. Os romances que lhe dariam um lugar cimeiro entre os intelectuais italianos do século XX — Os Indiferentes, A Romana, O Desprezo, A Ciociara e O Tédio — já tinham sido publicados. Em muitos aspectos, a Índia dos nossos dias já não será a Índia que Alberto Moravia visitou no princípio dos anos 60 do século passado. O escritor soube, no entanto, procurar nela os traços de uma identidade ancestral. Quase meio século depois de ter sido publicado, o que mantém este livro actual — para lá da prosa elegante de Moravia — é o mérito de escapar à pequena anedota circunstancial, que talvez lhe acrescentasse em colorido aquilo que lhe subtrairia em capacidade de ler os sinais profundos de uma cultura milenar.»
— Carlos Vaz Marques

Alberto Moravia

Alberto Moravia, pseudónimo de Alberto Pincherle, nasceu em Roma, em 1907, numa família próspera de classe média. Ainda criança, adoeceu com tuberculose óssea, tendo passado, ao todo, cinco anos em sanatórios e em casa, entre os 9 e os 17 anos de idade. Talvez este isolamento, que fomentou a voracidade da leitura, explique a precocidade literária do escritor. Colaborou em jornais, ainda muito jovem, e com 22 anos publicou o seu primeiro romance – «Os Indiferentes» – que teve um grande impacto na atmosfera literária italiana da época. Para tal contribuiu o pendor marcadamente antifascista e antiburguês da obra, no contexto de uma Itália que acabara de assistir à assinatura da concordata entre Benito Mussolini e o Vaticano. Aliás, rapidamente as obras de Moravia viriam a ser proibidas pelo regime ditatorial e colocadas no Índex do Vaticano, por atentarem contra os valores morais e os bons costumes. Por ser oriundo de família judaica e militante de esquerda, viveu nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1941 casou com Elsa Morante, também escritora, e o casamento manteve-se durante quase 20 anos. Regressou à Itália após o conflito e retomou a militância, ao mesmo tempo que aumentava o seu prestígio além-fronteiras e que várias obras suas eram adaptadas ao cinema por grandes cineastas, como Bernardo Bertolucci («O Conformista») e Jean-Luc Godard («O Desprezo»). Em 1961 fez uma viagem pela Índia, acompanhado pela mulher e por Pier Paolo Pasolini. Desta viagem resultaram os textos que compõem «Uma Ideia da Índia». Alberto Moravia morreu em Roma, em 1990.