LEI SECA - Tinta da China

«Os falsos diários de Mexia são uma das mais estimulantes escritas da nossa literatura actual.»
— Osvaldo Manuel Silvestre

«Este diário é também um teatro, teatro do ‘eu’, do ego stendhaliano, mais do que do freudiano, mas um teatro com comparsas e figurantes. Há muitas figuras episódicas: assinalam uma amabilidade, uma ambiguidade, um choque, e depois desaparecem. Já os co-protagonistas da história, dramatis personæ deste espectáculo, são talvez apenas uns dez ou onze mas estão em todos os meses de todos estes anos, sem nomes, dificilmente identificáveis, mas claramente identificados como o meu mundo, deles e delas vem tudo aquilo que sei acerca do mundo. Em dez anos, só em períodos curtos, e por razões facilmente explicáveis, é que não há ninguém, mas em geral estes exercícios de egotismo vivem em diálogo. Não um diálogo directo com essas pessoas, tento nunca escrever aquilo que posso dizer ao vivo, mas um monólogo dramático onde também lhes dou voz, não conto apenas a minha versão mas também contesto os meus pontos de vista, dos quais, com poucas excepções, raramente estou certo. Uma dezena de pessoas, pouco mais, página após página, texto após texto, não serei capaz de dizer que isto vale alguma coisa, mas não tenho dúvida de que está aqui tudo o que conta, mesmo quando eu não conto tudo.»
— Pedro Mexia

Pedro Mexia

Pedro Mexia nasceu em Lisboa, em 1972. Licenciou‑se em Direito pela Universidade Católica. Escreveu crítica literária e crónicas para os jornais Diário de Notícias e Público. Actualmente colabora com o semanário Expresso. É um dos membros do Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer (SIC Notícias) e mantém, com Inês Meneses, o programa PBX. Foi subdirector e director interino da Cinemateca.
Publicou sete livros de poesia, antologiados em Poemas Escolhidos (2018). Editou os volumes de diários Fora do Mundo (2004), Prova de Vida (2007), Estado Civil (2009), Lei Seca (2014) e Malparado (2017), e as colectâneas de crónicas Primeira Pessoa (2006), Nada de Melancolia (2008), As Vidas dos Outros (2010), O Mundo dos Vivos (2012), Cinemateca (2013), Biblioteca (2015), Lá Fora (2018, vencedor do Grande Prémio de Crónica da Associação Portuguesa de Escritores) e Imagens Imaginadas (2019).
Organizou um volume de ensaios de Agustina Bessa‑Luís, Contemplação Carinhosa da Angústia; a antologia Verbo: Deus como Interrogação na Poesia Portuguesa [com José Tolentino Mendonça]; O Homem Fatal, crónicas escolhidas de Nelson Rodrigues; e Nada Tem já Encanto, antologia poética de Rui Knopfli. Traduziu Robert Bresson, Tom Stoppard, Hugo Williams, Martin Crimp e David Mamet. Coordena a colecção de poesia da Tinta‑da‑china e dirige, com Gustavo Pacheco, a revista Granta em Língua Portuguesa. Em 2015 e 2016 integrou o júri do Prémio Camões.