LISBOA REVOLUCIONÁRIA (bolso) - Tinta da China
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«O livro tem como objecto de estudo a Lisboa Revolucionária do século XX, particularmente os primeiros 30 anos do século passado, tendo ainda uma incursão pelo ‘abalo telúrico’ de 1974/75, para utilizar uma expressão com que o autor se costuma referir a este período.
Uma das originalidades do livro, e um dos aspectos mais inovadores em termos da apresentação desta investigação histórica, é que o autor parte dos vários cenários de Lisboa, onde ocorreram os principais eventos que iriam determinar os acontecimentos insurreccionais, traçando uma espécie de geografia dos vários confrontos.
O autor passeia-nos por Lisboa, revisitando o palco dos conflitos avançando do Tejo e da zona ribeirinha para Norte. Percorremos ruas, como a Rua do Arsenal, que emprestou o seu chão ao landau que transportava o rei já morto, as ruas de Alcântara atormentadas por cargas policiais sucessivas, ruas solidárias que ostentavam a rebeldia crónica dos seus habitantes cedendo-lhes a alma, o traçado e o quartel em momentos vários de insurreições pressentidas.
O Terreiro do Paço perfila-se nestes espaços insurrectos como o tabuleiro do xadrez de todos os poderes, com os peões a avançarem em xeque-mate, acompanhado do Arsenal da Marinha e da Praça do Município, com o seu pelourinho a servir de testemunha à proclamação da República no quinto dia do longínquo Outubro de 1910.
Estratégico, o Castelo de São Jorge tomou várias posições, ora estando do lado dos poderes, ora insubordinando-se e passando, generoso, para o reviralho.
A Baixa Pombalina e o Chiado queirosiano, que preparam a entrada para o Largo do Carmo, confessam-se cenários envolventes de bravatas, refúgios, intentonas, rendições e revoluções, memórias de ouro da cidade, em que pontifica vívido e concreto o 25 de Abril.
O eixo do Rossio, Restauradores e Avenida da Liberdade constitui-se como uma ampla área de circulação entre o Terreiro do Paço e a Rotunda. Este espaço assistiu por várias vezes ao vaivém amotinado de insurgentes vários.
A Rotunda congregou desde sempre apetites tácticos que subiram ao Parque e a Campolide. Aí se jogou de forma cirúrgica o fim da Monarquia e aí pontificou anos mais tarde Sidónio Pais a tentear novos caminhos.
Este território passou muitas vezes de poiso de caçadores a arena de caçados, com ataques vindos da extensão que abrange o Largo do Rato, Rua da Escola Politécnica, São Pedro de Alcântara e Rua de S. Bento.
Os pontos nevrálgicos da cidade não acabam aqui, e o autor passeia-nos ainda nas Avenidas Novas e, finalmente, leva-nos a Monsanto.
Tudo isto com o Tejo a observar-nos, também ele espaço amotinado de memórias líquidas.
Eis uma das grandes revelações deste livro: transformar os espaços da cidade já vivida em personagens reais, dando-lhes alma e voz, ostentando no peito, como medalhas, os acontecimentos que mudaram, fizeram e desfizeram a marcha dos dias a abarrotar de História.»
— Albérico Afonso Costa

Fernando Rosas

Fernando Rosas é professor emérito da Universidade Nova de Lisboa e professor catedrático jubilado de História Contemporânea da NOVA FCSH. Foi fundador e presidente do Instituto de História Contemporânea. É autor de uma vasta obra historiográfica com grande foco na Primeira República, no Estado Novo e na Revolução de 1974/1975. Foi autor e apresentador das séries televisivas História a História e História a História África (RTP2 e RTP África, 2016‑2017). Entre as suas obras mais recentes editadas pela Tinta‑da‑china, destacam‑se Salazar e o Poder: A Arte de Saber Durar (Prémio Pen Club de Ensaio, 2012); Salazar e os Fascismos (Prémio de História Contemporânea da Fundação Calouste Gulbenkian/Academia Portuguesa de História, 2019); O Século XX Português (coord. de obra coletiva, 2020); A Revolução Portuguesa de 1974‑1975 (coord. de obra coletiva, 2022). Foi deputado à Assembleia da República e candidato à Presidência da República. Integrou a Comissão Instaladora do Museu Municipal do Aljube e é membro da Comissão Instaladora do Museu Nacional do Forte de Peniche. Recebeu a medalha do Ministério da Ciência em 2017. Em 2015, foi condecorado pelo presidente Jorge Sampaio com a Ordem da Liberdade.