LÔÁ PERDIDA NO PARAÍSO - Tinta da China
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2.º volume de A BÍBLIA DE LÔÁ

Lôá é uma menina-deus. Tudo aconteceu mais ou menos assim: Um dia Lôá pôs-se a desenhar. Criou um mundo que lhe pareceu tão belo e tão bom que quis entrar nele. Desde então, vive perdida nesse mundo.

«Lôá e Élô estão deitados num chão de terra. Élô está voltado para o céu, tapando os olhos com as mãos. Virada de barriga para baixo, Lôá desenha numa das páginas do orviL, que tem aberto à sua frente.
– Já posso ver? – pergunta Élô, impaciente.
– Não, ainda não – responde Lôá, continuando a desenhar.
Élô tenta espreitar, mas Lôá repreende-o.
– Tens de esperar que eu acabe. Já falta pouco.
Lôá rabisca mais uns traços e dá o desenho por terminado.
– Pronto, já podes ver.
Élô volta-se num pulo.»

Dulce Maria Cardoso

Dulce Maria Cardoso publicou os romances Eliete (2018, livro do ano, entre outros, no Público, Expresso e no JL, Prémio Oceanos e finalista do Prémio Femina), O Retorno (2011, Prémio Especial da Crítica e livro do ano dos jornais Público e Expresso), O Chão dos Pardais (2009, Prémio PEN Clube Português e Prémio Ciranda), Os Meus Sentimentos (2005, Prémio da União Europeia para a Literatura) e Campo de Sangue (2001, Prémio Acontece, escrito na sequência de uma Bolsa de Criação Literária atribuída pelo Ministério da Cultura).
Os seus romances estão traduzidos em várias línguas e publicados em mais de duas dezenas de países. A tradução inglesa de O Retorno recebeu, em 2016, o PEN Translates Award.
Publicou contos em revistas e jornais, a maioria dos quais reunida nas antologias Até Nós (2008) e Tudo São Histórias de Amor (2014). Alguns deles fazem parte de várias antologias estrangeiras, e «Anjos por dentro» foi incluído na antologia Best European Fiction 2012, da Dalkey Archive. Em 2017, foram publicados os textos Rosas, escritos no âmbito da estada em Lisboa de Anne Teresa De Keersmaeker, quando a coreógrafa foi a Artista na Cidade. Criou, ainda, a personagem Lôá, a menina-Deus, para uma série da RTP2.
A obra de Dulce Maria Cardoso é estudada em universidades de vários países, fazendo parte de programas curriculares, e tem sido objecto de várias teses académicas, bem como adaptada a cinema, teatro e televisão. A autora tem participado em vários festivais de prestígio internacional.
Em 2012, recebeu do Estado francês a condecoração de Cavaleira da Ordem das Artes e Letras. Assina, na Visão, a coluna «Autobiografia não autorizada» (crónicas publicadas em livro, em 2021 e 2023).

Vera Tavares

Vera Tavares nasceu em Lisboa, em 1972. É licenciada em História de Arte pela Universidade Nova de Lisboa e frequentou os cursos de Desenho e de Ilustração do Ar.Co. Foi directora de arte na agência de publicidade CP Proximity.
É directora de arte na Tinta-da-china desde 2006. Curupira Pirapora é o seu primeiro livro infantil.