
Kapuscinski, escritor e um dos maiores repórteres do século XX, esteve em Angola num período conturbadíssimo: entre o 25 de Abril de 1974 e a independência do país africano, em Novembro de 1975. Eis o relato de uma experiência quase irreal.
«Luanda não estava a morrer da forma que as nossas cidades polacas morreram na última guerra. Não havia ataques aéreos, não havia ‘pacificação’, não havia destruição de bairro após bairro. Não havia cemitérios nas ruas e nas praças. Não me lembro de um único incêndio. A cidade estava a morrer como morre um oásis quando o poço seca: esvaziou-se, prostrou-se inanimada, caiu no esquecimento. Mas a agonia viria mais tarde; naquela altura, havia uma actividade febril por todo o lado. Toda a gente estava cheia de pressa, toda a gente se ia embora. Toda a gente tentava apanhar o avião seguinte para a Europa, para a América, para qualquer lado.»
— Ryszard Kapuscinski
«Mais Um Dia de Vida, publicado originalmente na Polónia em 1976, é o relato de viagem por uma cidade que apenas existiu três meses: a Luanda entre o êxodo português e a proclamação da independência pelo MPLA. É, por isso, um documento único. Talvez seja também bom jornalismo. É, sem dúvida, grande literatura.»
— Pedro Rosa Mendes
Ryszard Kapuscinski
Ryszard Kapuscinski nasceu em 1932, na Polónia. É unanimemente considerado o grande autor da reportagem literária e o seu trabalho foi por vezes apelidado de «jornalismo mágico».
Colaborou com vários órgãos de comunicação, mas distinguiu-se enquanto correspondente da agência noticiosa polaca, a PAP: ao longo de dez anos, cobriu 50 países. Kapuscinski viveu 27 revoluções e golpes de estado, foi preso cerca de 40 vezes e sobreviveu a quatro sentenças de morte. Assistiu, por exemplo, ao golpe de estado no Chile e à revolução no Irão. Os seus trabalhos mais conhecidos datam dos anos que passou em África, nas décadas de 1960 e 1970, onde assistiu em primeira mão ao fim dos impérios coloniais europeus. Nunca fez uma única pergunta em conferências de imprensa.
É autor de dezenas de livros, de reportagem e ficção,
e também de livros de fotografia. Em Portugal estão traduzidos Ébano, O Imperador, Andanças com Heródoto, O Outro, Os Cínicos Não Servem para Este Ofício, Mais Um Dia de Vida – Angola 1975.
Ryszard Kapuscinski morreu em 2007.