MALPARADO - Tinta da China
10%

«DRAMATIS PERSONÆ
Escrevo sobre sete ou oito pessoas (agora nove?), há gente de quem gosto muito e sobre quem nunca escrevi uma única linha, ao passo que me ocupo obsessivamente de quem devia esquecer; mas as coisas são o que são: tenho o meu teatro mental, e esse teatro supõe certas personagens marcantes com quem me cruzei e que representam aquilo que são de facto, ou aquilo que imagino, aquilo que foram comigo, e talvez, às vezes, arquétipos ou clichês, demonizações ou idealismos. Por isso tem graça quando alguém quer entrar à força nos meus textos, quando alguém se sente elogiado ou atacado, sem que isso alguma vez me passasse pela cabeça, sem que isso alguma vez tenha qualquer hipótese de acontecer, jamais. Entra nesta peça quem eu escolher (mesmo quando não tive escolha nenhuma), talvez quem se adeqúe ao guião. Por isso não é verdade que escreva ‘sobre mim’: escrevo sobre essas pessoas, uma e outra vez. Escrevo ‘sobre mim’ apenas na medida em que sou eu quem escreve os textos. Mas esse “eu” existe por causa de sete, oito personagens, nove agora.»
— Pedro Mexia

Pedro Mexia

Pedro Mexia nasceu em Lisboa, em 1972. Licenciou‑se em Direito pela Universidade Católica. Escreveu crítica literária e crónicas para os jornais Diário de Notícias e Público. Actualmente colabora com o semanário Expresso. É um dos membros do Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer (SIC Notícias) e mantém, com Inês Meneses, o programa PBX. Foi subdirector e director interino da Cinemateca.
Publicou sete livros de poesia, antologiados em Poemas Escolhidos (2018). Editou os volumes de diários Fora do Mundo (2004), Prova de Vida (2007), Estado Civil (2009), Lei Seca (2014) e Malparado (2017), e as colectâneas de crónicas Primeira Pessoa (2006), Nada de Melancolia (2008), As Vidas dos Outros (2010), O Mundo dos Vivos (2012), Cinemateca (2013), Biblioteca (2015), Lá Fora (2018, vencedor do Grande Prémio de Crónica da Associação Portuguesa de Escritores) e Imagens Imaginadas (2019).
Organizou um volume de ensaios de Agustina Bessa‑Luís, Contemplação Carinhosa da Angústia; a antologia Verbo: Deus como Interrogação na Poesia Portuguesa [com José Tolentino Mendonça]; O Homem Fatal, crónicas escolhidas de Nelson Rodrigues; e Nada Tem já Encanto, antologia poética de Rui Knopfli. Traduziu Robert Bresson, Tom Stoppard, Hugo Williams, Martin Crimp e David Mamet. Coordena a colecção de poesia da Tinta‑da‑china e dirige, com Gustavo Pacheco, a revista Granta em Língua Portuguesa. Em 2015 e 2016 integrou o júri do Prémio Camões.