MEMORIAL DE AIRES - Tinta da China
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Memorial de Aires é o último romance de Machado de Assis, publicado no ano da sua morte (1908). Obra extremamente depurada, é a segunda atribuída ao conselheiro Aires, diplomata aposentado que apareceu no romance anterior, Esaú e Jacó (1904), onde é personagem e autor ficcional. Agora, escreve um conjunto de anotações quotidianas, o Memorial, nos anos de 1888 e 1889. No cenário da abolição da escravatura, Aires é uma figura complexa como testemunha e comentador: acompanha o velho casal Aguiar e a sua orfandade às avessas, enquanto na escrita se dedica à bela viúva Fidélia e se envolve nos meandros divagantes do seu próprio e inesperado desejo. Ao mesmo tempo terno e cruel, o livro oscila entre o apontamento disperso e a narrativa escorreita, sempre contido e conciso, enquanto a sombra discreta do Fausto perpassa melancólica, quase indiferente…

OS MELHORES DELES TODOS
A literatura brasileira pode dividir-se em duas linhagens de escritores: a dos que se integram no movimento para dar aos brasileiros uma literatura a que possam chamar «nossa», e a dos que aderem ao ideal de uma literatura que faz estrangeiro quem a reconheça como sua. Esta «biblioteca concisa» é uma muitíssimo selecta representação do segundo grupo. Os melhores deles todos, precisamente.
Colecção dirigida por Abel Barros Baptista e Clara Rowland

Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) nasceu e viveu no Rio de Janeiro. A única vez que deixou a cidade, em 1879, para convalescença de crise de epilepsia, foi para Nova Friburgo. Essa estada ficou literariamente famosa por ter aí começado — ditando-o à mulher, Carolina — Memórias Póstumas de Brás Cubas, livro singularmente extravagante que marca toda a sua obra. Descendente de escravos (o pai, pintor de paredes, era filho de escravos forros; a mãe, uma lavadeira açoriana), pobre, órfão muito cedo, não teve educação formal e foi funcionário público, mas, não obstante ter surgido como o mais excêntrico escritor que o Brasil já conhecera, cedo alcançou enorme reputação literária, fundando e presidindo a Academia Brasileira de Letras. Foi o mais completo homem de letras oitocentista no Brasil, escrevendo em vários géneros, mas destacando-se enquanto romancista, contista e cronista. Os seus romances ainda surpreendem pela actualidade, pelo inesperado do humorismo filosófico e pelo cosmopolitismo. Parece nunca ter sido tão estimado pelos seus pares como foi por eles admirado, o que seria injusto atribuir à excepcional configuração do seu génio literário.