METRÓPOLE FEÉRICA - Tinta da China
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«Um Atlas Ilustrado de Criptogeografia. Completo e fidedigno inventário cartográfico de cidades desaparecidas, impérios fabulosos, reinos utópicos & outras ocorrências lendárias, complementado por profusa anotação versando trajes, máscaras cerimoniais & chapéus insólitos, monumentos funerários para animais de estimação, sacrifício ritual de gadgets.»

José Carlos Fernandes (argumento) e Luís Henriques (desenho) são os autores do primeiro livro da série de banda desenhada intitulada Terra Incógnita. No texto das badanas pode ler-se:
«Parece que um certo Thomas Kohnstamm, num misto ardiloso de arrependimento e oportunismo, deu à estampa um livro intitulado ‘Do travel writers go to hell?’, em que confessa que nem sempre visitou os sítios sobre os quais escreveu para os prestigiados guias de viagens da Lonely Planet. O guia da Colômbia terá sido escrito em São Francisco (EUA) a partir das informações veiculadas por uma namorada de Kohnstamm, que era funcionária no consulado colombiano na dita cidade californiana. Atendendo ao clima insalubre que reina na Colômbia e sendo a qualidade de gringo de Kohnstamm um atractivo que o tornaria num candidato a ganhar uma estadia vitalícia nas colónias de férias geridas por seitas narco-marxistas e a ter de passar o resto dos seus dias a aturar o zumbido dos mosquitos e as leituras em voz alta de textos programáticos de Lenine, a opção do escritor parece mais que atilada.
O director executivo da Lonely Planet declarou-se decepcionado com esta revelação, mas tentou salvar a reputação da empresa, afirmando crer que os restantes guias são credíveis e não são beliscados por esta fuga pontual à verdade. Pois eu sonho com um dia em que todos os guias sejam escritos sem visitar os locais e os viajantes que os seguem se percam e frequentem restaurantes não recomendados, e comam o arranjo floral sobre a mesa julgando tratar-se de um prato típico, e contraiam doenças desconhecidas da medicina, e façam gestos com as mãos que poderão exprimir afecto no Ocidente Civilizado mas que noutras paragens podem querer insinuar que o interlocutor mantém relações íntimas e regulares com caprinos, e passem ao lado do rutilante Mausoléu do Rei do Poliuretano Expandido e dos urinóis públicos em que um Artista Pop Famoso foi surpreendido em relações contranatura e da gruta onde Pigres de Caria escreveu a peça Batrachomyomancia, e se esqueçam de visitar a cidade natal do compositor Bohuslav Matěj Černohorský, e caminhem inadvertidamente de havainas, boné de baseball e iPod aos berros sobre o túmulo do profeta Al-nasdaq, e sejam perseguidos por uma turba enfurecida que os quer fritar em azeite como punição por tão inimaginável sacrilégio.
Tanto quanto sei, os autores do presente livro levam vidas apagadas, burguesas e recatadas num canto ensolarado da Europa meridional e são pouco viajados, pelo que não têm conhecimento directo dos sítios de que falam – é pois com entusiasmo que recomendo este livro. »
— Thomas Hook, fundador da Agência de Viagens Estacionárias Couch Potatoe

José Carlos Fernandes

José Carlos Fernandes nasceu em 1964 em Loulé. Não tem qualquer formação artística. Tem, como tantos portugueses, um diploma que atesta que é licenciado em Engenharia (neste caso particular, do ambiente). As primeiras incursões no desenho e na BD, estritamente autodidácticas, datam de fins de 1989, mas só em 1999 se aventurou a dedicar-se a tempo inteiro à vasta e incerta galáxia que as Finanças englobam sob o código 92312: «Outras actividades artísticas & literárias», onde coexistem as palestras sobre dinâmica de grupo realizadas por treinadores de futebol para quadros de empresas e os livros que desvendam a intimidade dos dirigentes desportivos e fazem revelações sensacionais sobre a corrupção no futebol. JCF tem feito coisas bem diversas classificáveis ao abrigo do código 92312, mas nenhuma das duas atrás mencionadas.
Não se tem inspirado na sua vida pessoal nem em «casos reais» e, exceptuando algumas pilhagens a Ray Bradbury e Gabriel García Márquez, no início de carreira, e duas colaborações com João Miguel Lameiras e João Ramalho Santos, os argumentos das suas BDs são apenas atribuíveis às suas tortuosas circunvoluções encefálicas e a um regime de leituras desregrado e bulímico.
A série A Pior Banda do Mundo (que conta com 6 volumes) é o mais conhecido dos seus trabalhos e está traduzida em espanhol, polaco e basco. Há quem gostasse de vê-la também traduzida em português, pois repetem-se as queixas de que é incompreensível e esdrúxula e recorre a vocabulário arcaico, sintaxe arrevesada e tom gongórico.
JCF tem vindo a escrever argumentos para outros desenhadores, como Luís Henriques, Miguel Rocha, Roberto Gomes, Susa Monteiro, Manuel García Iglesias, com os quais tem vindo a desenvolver as séries Black Box StoriesTerra Incognita e O que está escrito nas estrelas. A sua obra tem sido objecto de várias exposições individuais e colectivas, quer em Portugal quer no estrangeiro (França, Espanha, Polónia, Roménia, Brasil, Uruguai).
JCF obteve por três vezes o Prémio Rafael Bordalo Pinheiro, atribuído pela Câmara Municipal de Lisboa (1991, 1993 e 1995), e recebeu o 1.º Prémio nos concursos de BD de Matosinhos e de Ourense (ambos em 1995). No ano 2000, recebeu uma Bolsa de Criação Literária do Ministério da Cultura (IPLB), referente ao projecto O Museu Nacional do Acessório e do Irrelevante. Com A última obra-prima de Aaron Slobodj, JCF recebeu o prémio de melhor argumento e prémio juventude FIBDA 2005. Com a obra José Carlos Fernandes: antologia 1992-2005 recebeu o Troféu Centralcomics 2006 para melhor álbum nacional. Black Box Stories vol. 1 foi galardoado com os prémios FIBDA 2007 para melhor álbum nacional, melhor argumento nacional, melhor desenho nacional e prémio juventude.

Luís Henriques

Nasceu em Lisboa, em 1973. Tem formação em pintura e história de arte. É ilustrador de literatura infantil – com alguns títulos editados na Caminho – e publica banda desenhada desde 2006 (Tratado de Umbrografia, com José Carlos Fernandes, para a Devir, em 2006, e Babinski, com José Feitor, para a Imprensa Canalha em 2007).