
«ESCRITOR INGLÊS DESAPARECE DEIXANDO UMA CARTA MISTERIOSA.»
— Diário de Lisboa, 28 de Setembro de 1930
Neste caso, as notícias do desaparecimento do «mago» Aleister Crowley foram de facto exageradas. Mas além de O Mistério da Boca do Inferno se ter espalhado pela imprensa, divertiu muito Fernando Pessoa, que participou activamente nesta farsa modernista pré‑fake news. Foi ele que escreveu a «novela policiária» que relata os contornos desta verdadeira investigação policial, ao mesmo tempo que conduziu o embuste que lhe deu origem.
Nesta edição bilingue, ela própria um demorado e paciente trabalho de detective sobre um dos mais fascinantes mistérios da literatura portuguesa, encontramos Fernando Pessoa em interacção com aquele que foi considerado «o homem mais perverso do mundo», o «Master of Darkness» em título: Aleister Crowley, que terá vindo até Lisboa só para conhecer o poeta.
«AGORA QUE O MEU CORPO FOI ENCONTRADO, SINTO-ME MAIS TRANQUILO.»
— Aleister Crowley
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa (1888-1935) é hoje o principal elo literário de Portugal com o mundo. A sua obra em verso e em prosa é a mais plural que se possa imaginar, pois tem múltiplas facetas, materializa inúmeros interesses e representa um autêntico património colectivo: do autor, das diversas figuras autorais inventadas por ele e dos leitores.
Algumas dessas personagens, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, Pessoa denominou «heterónimos», reservando a designação de «ortónimo» para si próprio. Director e colaborador de várias revistas literárias, autor do Livro do Desassossego e, no dia-a-dia, «correspondente estrangeiro em casas comerciais», Pessoa deixou uma obra universal em três línguas que continua sendo editada e estudada desde que escreveu, antes de morrer, em Lisboa, «I know not what tomorrow will bring» [«Não sei o que o amanhã trará»].