
«E AGORA JÁ PODES ABRIR A CORTINA PORQUE QUERO VER O QUE ESTÁ ALI ATRÁS, PORQUE EU QUERO VER O NADA.»
O Pior É Que Fica é um livro com prefácio e sete capítulos que caminham para um derradeiro suspiro. Recorrendo a esta forma habitualmente associada ao romance, ou à prosa em geral, o livro inclina a literatura dramática para a leitura em voz baixa.
Encontram-se nele oito textos dramáticos que o autor decidiu juntar em jeito de retrospectiva sem nostalgia. Alguns deles são novidades, outros foram publicados em tempos antigos, mas contam hoje, pela ordem em que surgem e pelos anos que deixaram de os separar, uma história que não é cronológica.
Sinaliza-se, com esta organização, a possibilidade de um romance a espreitar pelo conjunto, com tudo o que escapa ou desaparece. É possível que se trate de um romance que recusa a responsabilidade de representar o que não é, mais interessado em falar sobre desaparecimento do que sobre aparições. Será um romance que não quer ficar, sabendo que ficará, porque só assim poderá não ficar? Mas também é possível que seja um livro de textos dramáticos, que se acumulam atrás da cortina, gesticulando para não serem vistos, de borracha e lápis na mão, com a falsa modéstia de quem não quer querendo.
José Maria Vieira Mendes
José Maria Vieira Mendes escreve maioritariamente peças de teatro, mas também publicou ensaios e ficção. É membro do Teatro Praga e da sua direção artística desde 2008. As suas peças foram traduzidas em mais de uma dezena de línguas. Faz traduções literárias e trabalha ocasionalmente com artistas plásticos e em cinema. Publicou, mais recentemente, Arroios, Diário de um diário (ficção, 2015, Dois Dias edições), Uma Coisa (teatro, 2016, Livros Cotovia), Para Que Serve? (infância, 2020, Planeta Tangerina) e Uma Coisa não É Outra Coisa (ensaio, 2022, Sistema Solar). É professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.