OBRA POÉTICA COMPLETA - Tinta da China

«Para mim a poesia não foi nunca uma intenção, mas uma paixão; e as paixões merecem ser tratadas com respeito; não devem – não podem – ser excitadas a nosso bel-prazer com vista às compensações triviais, e às honrarias mais triviais ainda, da humanidade.»
— Edgar Allan Poe

«O que distingue acentuadamente a personalidade mental de Edgar Poe é a coexistência nele de uma imaginação fantástica e delirante, de extraordinária subtileza e eteridade, e um raciocínio frio, claríssimo, maravilhoso na análise como na síntese. Foi isto que permitiu que, a par de poemas estranhos e por fim delirantes, fosse, em prosa, autor de contos que se assemelham em natureza aos seus poemas.»
— Fernando Pessoa

«Poe fez poucos poemas; lamentou-se algumas vezes de não poder entregar-se, não só com mais frequência mas com exclusividade, a esse género de trabalho que considerava ser o mais nobre. Todavia, a sua poesia tem sempre um efeito poderoso. […] É algo de profundo, espelhando como o sonho, misterioso e perfeito como o cristal.»
— Charles Baudelaire

«Uma devoção única leva-me a representar o puro entre os Espíritos, [Edgar Poe], destacando-se sumamente sobre qualquer outro, como um aerólito ; estelar, relampejante, projecção dos desígnios humanos, muito longe de nós e contemporâneo daqueles a quem se fez explodir em pedras preciosas de coroa destinada a ninguém, a muitos séculos daqui. É, efectivamente, essa excepção, e o caso literário absoluto.»
— Stéphane Mallarmé

Edgar Allan Poe

Edgar Allan Poe (1809-1849) foi escritor, poeta, romancista, crítico literário e editor. Merece, na literatura, o estatuto de precursor a vários títulos, desde a teorização do género conto ao desbravamento do fantástico psicológico, passando pela invenção do policial e da ficção científica. Na poesia, inspirou o simbolismo e o poema em prosa. Em termos de teoria da literatura, foi defensor de uma mudança de enfoque do poeta romântico para a composição do poema, da aproximação da crítica literária à especialização científica, e da importância da estética do efeito, influenciando assim posteriores teorias de recepção.
Depois da morte da mãe, Poe foi acolhido por Frances Allan e o seu marido John Allan, um mercador de tabaco que nunca o adoptou legalmente, mas lhe deu o seu apelido. Frequentou a Universidade da Virgínia durante apenas um ano, visto que John Allan, considerando dissoluto o seu comportamento, não o reinscreveu.
Na sequência de desentendimentos com o pai adoptivo, Poe alistou-se nas forças armadas, sob o nome Edgar A. Perry, em 1827. Nesse mesmo ano, publicou o seu primeiro livro, Tamerlane and Other Poems. Em 1829, publicou o segundo livro, Al Aaraaf, e reconciliou-se com John Allan, que o auxiliou a entrar na Academia Militar de West Point. Acabou por ser expulso desta academia, o que voltou a agudizar os conflitos com John Allan, acentuando-se a desavença até à morte deste, em 1834. Os cadetes de West Point, não obstante, terão contribuído para a publicação do livro Poems em 1831.
Mudou-se, em seguida, para Baltimore, para a casa da sua tia viúva, Maria Clemm, e da sua filha, Virginia Clemm. Durante esta época, Poe usou a escrita de ficção e depois a crítica literária como meio de subsistência e, no final de 1835, tornou-se editor do jornal Southern Literary Messenger. Casou com a sua prima Virginia.
Em 1837, mudou-se para Nova Iorque, onde passou quinze meses, antes de se mudar para Filadélfia. Pouco depois publicou The Narrative of Arthur Gordon Pym. No verão de 1839, tornou-se editor-adjunto da Burton’s Gentleman’s Magazine, onde publicou um grande número de artigos, histórias e críticas. Nesse mesmo ano, foi publicada a colecção Tales of the Grotesque and Arabesque.
No início de 1845, foi publicado o seu célebre poema «O Corvo».
Falhou uma tentativa de suicídio e regressou a Richmond. Sarah Elmira Royster, uma paixão de infância que entretanto enviuvara, voltou a ligar-se ao escritor.
Morreu em Baltimore, em 1849, em circunstâncias não inteiramente esclarecidas.