
Os dois debates históricos da fundação da democracia portuguesa
«Olhe que não, olhe que não!» foi como Álvaro Cunhal reagiu aos constantes ataques e acusações de Mário Soares num célebre debate promovido pela RTP na noite de 6 de novembro de 1975, onde ficaram patentes duas personalidades políticas, duas conceções do mundo e duas estratégias bem distintas para o país. Realizado já com o cheiro ao golpe de 25 de novembro, o debate faz parte da história da televisão e da própria democracia. Mas o que os portugueses desconhecem é que o confronto na RTP não foi o único, nem sequer o primeiro debate televisivo entre os dois gigantes da Revolução. Quatro meses antes, já se haviam encontrado num frente a frente organizado pelo canal francês Antenne 2, numa altura em que o PS e o PCP ainda estavam aliados no IV Governo Provisório. Em novembro, porém, o PREC estava ao rubro, com o país à beira de uma guerra civil, numa escalada em que Soares e Cunhal se encaravam mutuamente como adversários, senão mesmo como inimigos.
Este livro transcreve e contextualiza esses dois grandes momentos de 1975: o educado e diplomático frente a frente da Antenne 2, uma espécie de ensaio geral para o grande e feroz combate na RTP1, que foi o ato fundador da democracia mediática em Portugal.
José Maria Brandão de Brito
José Maria Brandão de Brito nasceu em 1947. É economista e professor catedrático do ISEG/UTL, onde lecciona cadeiras de economia. Foi vice‑reitor da Universidade Técnica de Lisboa, administrador da TAP e presidente da RTP.
Foi membro dos conselhos gerais da UTL e do ISEG, e do Conselho Geral e de Supervisão da EDP. É membro de várias instituições científicas.
Colabora regularmente, com artigos de opinião, na comunicação social escrita. É autor de livros e outros trabalhos sobre temas de economia.
José Pedro Castanheira
José Pedro Castanheira (Lisboa, 1952) é jornalista profissional desde 1974. Tem formação em Economia e uma pós-graduação em Jornalismo. Trabalhou em jornais como A Luta, O Jornal e, durante 28 anos, o Expresso. Foi presidente da direcção do Sindicato dos Jornalistas. Tem-se dedicado à grande reportagem e ao jornalismo de investigação, e ganhou alguns dos mais prestigiados galardões atribuídos em Portugal. É autor de uma dezena de livros, nomeadamente Quem Mandou Matar Amílcar Cabral? (1995, editado também em Itália e França); A Filha Rebelde (com Valdemar Cruz, 2003, editado também em Espanha e que deu origem a uma peça de teatro e a uma série televisiva); Os Dias Loucos do PREC (com Adelino Gomes, 2006); e Jorge Sampaio: Uma biografia (2 vols., 2012/2017). Na Tinta-da-china, publicou A Queda de Salazar (com António Caeiro e Natal Vaz, 2018), Olhe Que Não, Olhe Que Não! (com José Maria Brandão de Brito, 2020) e Volta aos Açores em 15 Dias (2022), um diário de bordo que foi a sua primeira incursão fora dos quadros do jornalismo e que foi distinguido com o Grande Prémio de Literatura de Viagens APE — Maria Ondina Braga. Integrou o júri das Bolsas de Investigação Jornalística, concedidas pela Fundação Calouste Gulbenkian.