OURO E CINZA - Tinta da China
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«Não existe na escrita de Paulo Varela Gomes uma palavra a mais nem uma palavra a menos. Apenas a palavra (eticamente) justa. Ao rigor da sintaxe alia-se o rigor semântico. Em contracorrente, o edifício de palavras construído por P.V.G. não corre o risco de se desmoronar no vazio. Aqui não há crochet, há carpintaria. Não há frases em bicos de pé, há proposições com sentido. Se o poeta Mário Quintana estiver certo, e o estilo for “uma dificuldade de expressão”, vão por mim: estas crónicas estão isentas de brilhantina. E aprende-se muito com elas.»
— Ana Cristina Leonardo, Expresso

«São acerca de quê, estas páginas? Não sei como responder a esta questão. Sentimentos, sítios, ideias, objectos, imagens, climas, bichos, plantas.
Escrevi crónicas regulares para jornais e revistas durante trinta anos, desde 1984. Foram milhares e milhares de páginas. Habituei-me ao formato limitado, entre quinhentas e mil palavras por texto, mais coisa, menos coisa, e reparo hoje que, desde as primeiras crónicas, no Blitz e no Jornal de Letras, encontrei uma certa facilidade nesse formato. O facto de serem poucas as palavras nunca evitou que dissesse asneiras, mas teve a grande vantagem de impedir que fossem muito graves. Por outro lado, poucas palavras implicam palavras certas. Aprendi a escolhê-las com cuidado.
Colaborei com o Público desde que este jornal apareceu, em 1990. Escrevi textos de variados géneros e, entre 2007 e 2013, crónicas regulares que se distribuíram por três séries: Cartas de Cá (mais de oitenta), Cartas do Interior (mais de cem) e Cartas de Ver (cerca de cinquenta). Foram muitas semanas e muita vida, muito ouro e muita cinza. Seleccionei para este livro algumas crónicas das duas primeiras séries, aquelas que ainda hoje me parecem bem, conjuntamente com alguns artigos mais longos, que saíram tanto no Público como em outras publicações. Espero que os leitores, tanto os que já conhecem estes textos como aqueles que nunca os leram, gostem da variedade do mundo observada em poucas palavras.»
— Paulo Varela Gomes

Paulo Varela Gomes

Paulo Varela Gomes (1952-2016) foi professor dos ensinos secundário e superior até se reformar em 2012, autor de artigos e livros da sua área de especialidade (História da Arquitectura e da Arte), colaborador e cronista permanente de vários jornais e revistas, designadamente do Público, autor e apresentador de documentários de televisão. Escreveu o livro de crónicas Ouro e Cinza, os romances O Verão de 2012Hotel (Prémio PEN Narrativa 2015), Era Uma Vez em Goa (Grande Prémio de Romance e Novela APE 2015) e Passos Perdidos, e o livro de contos A Guerra de Samuel. Em 2015, publicou na revista Granta o texto «Morrer é mais difícil do que parece».