PORTUGUESES DA AMÉRICA - Tinta da China
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Da Costa Leste à Costa Oeste, passando por Pittsburgh e Nova Iorque, os autores partiram à procura de portugueses ou luso-descendentes de sucesso na América. A história e o retrato da fantástica diáspora portuguesa.

«O mérito de Margarida Marante é o de ter conseguido, pela escolha impressiva dos testemunhos e pela continuidade das questões colocadas a todos eles, um relato que permite uma leitura transversal da história da presença dos portugueses e dos luso‑descendentes nos Estados Unidos da América.»
— António Vitorino

«Este livro resulta de uma viagem, longa em termos geográficos, intensa em termos de experiências de vida. Da Costa Leste à Costa Oeste, passando por Pittsburgh, Nova Iorque e os seus subúrbios, parti à procura de portugueses ou luso-descendentes de sucesso na América – uma palavra mais doce quando dita pelos meus entrevistados.
São histórias contadas na primeira pessoa, emocionalmente intactas, tal qual foram ditas a uma jornalista portuguesa que queria ouvi-los falar das suas vidas. Em comum, os entrevistados têm a convicção de que não foram discriminados: a América acolheu-os e, com mais ou menos sacrifícios, tiveram a oportunidade de concretizar os seus sonhos. Esta porta aberta, este regime de meritocracia que tanto favorece os emigrantes, decorre da própria essência do país enquanto melting pot de várias culturas e nacionalidades.
Mais ou menos a meio da elaboração deste livro de entrevistas, alguém me disse: ‘Foi tudo muito difícil, mas o que seria destas famílias se não tivessem emigrado para a América?’ É o ponto certo da discussão. Mesmo para aqueles que não são ‘casos de sucesso’, a América representou uma alternativa à extrema pobreza que se vivia nas aldeias, nos anos 60 e 70. Na América, o ‘sonho americano’ tornou-se realidade para muitos milhares de portugueses e para os seus descendentes.»
— Margarida Marante

Margarida Marante

«Na sua última grande entrevista, em 2010, ao Expresso, disse ter saudades do jornalismo. “Da maneira como o fiz”, acrescentou. Começou muito cedo a fazê-lo, isso que foi o que fez. Aos 17 anos, estudante de direito na Católica, bate à porta da revista semanal Opção e do seu director e fundador Artur Portela (que fundara também, logo em 1975, o Jornal Novo). A revista é de esquerda mas aceita a menina da Avenida de Roma, filha e neta única mimada, de formação católica e aparência senhoril (“Tentava disfarçar a minha juventude. Procurava passar uma imagem de pessoa mais velha e tinha um modo de vestir muito conservador.”), como estagiária. A Opção acaba e Margarida segue para o semanário Tempo, de Nuno Rocha, bem mais à direita. E daí para a RTP, onde entra, em 1978, por concurso público, para a informação do segundo canal. Passa pouco depois para o Canal 1, para a reportagem política. O salto para o género que a notabilizou, a grande entrevista, vem através de Daniel Proença de Carvalho (então à frente da TV pública), aos 21 anos. É provavelmente a mais nova jornalista de sempre, antes e depois, a questionar, “one to one”, em horário nobre televisivo, os protagonistas políticos do seu tempo – num tempo que caracterizou como “muito especial, em que se fazia a consolidação e estruturação do regime, (…) uma fase muito substantiva da vida política”.
Acumulando o trabalho com os estudos – que prolongou numa pós-graduação em direito comunitário e numa especialização em jornalismo nos EUA, entre 1983 e 1985 – faz ainda um pezinho na política: inscrita no PPD passado um mês da sua fundação, em 1974, aos 15 anos, com Francisco Pinto Balsemão como proponente, por um triz não é deputada, num tempo em que a acumulação com o jornalismo se aceita perfeitamente. Em 1980, falha a reportagem do acidente que vitima Sá Carneiro: “Quando cheguei e vi o amontoado de corpos e tanta água pedi para ser substituída. Não era capaz de ser imparcial.” O desaparecimento do fundador – curiosamente o único dirigente partidário da época que nunca entrevistou a sós – determina-lhe o afastamento do partido, com “um sentimento de orfandade”.
O primeiro prémio de jornalismo chega-lhe com uma grande reportagem sobre maus tratos de menores, ainda na RTP (em 1991, recebe, com Miguel Sousa Tavares, o prémio Gazeta de Mérito). Pouco depois, o director-geral da estação, José Eduardo Moniz, decide despedi-la, ao fim de 12 anos de casa, assim como a Maria Elisa Domingues e Maria Antónia Palla. O motivo alegado é o facto de acumularem o trabalho na TV pública com cargos nas recém-fundadas revistas femininas (ela como directora da Elle desde 1989, Maria Elisa na mesma posição na Marie Claire e Palla chefiando a redacção da Máxima). Numa altura em que só existia uma estação de TV em Portugal, o despedimento significava, como Margarida frisa na entrevista citada, “tirar-nos a hipótese de fazer televisão”. As três jornalistas levam o caso a tribunal. Todas ganham. Mas, ao contrário de Maria Elisa, que exige a reintegração, Margarida, que entretanto voltara à advocacia (no mesmo ano em que foi despedida da RTP também saiu da Elle) decide não o fazer, iniciando em 1991 uma colaboração com a recém-criada estação de rádio TSF e com o semanário Expresso. No ano seguinte, 1992, faz parte da equipa fundadora da SIC, a primeira TV privada a abrir em Portugal, propriedade da Impresa de Balsemão. Aí, até 2001, altura em que sai em ruptura com a administração, dirige e é pivô de vários programas de actualidade política – um dos quais, Crossfire, em co-autoria com Miguel Sousa Tavares –, incluindo Sete à Sexta e Conta Corrente, sendo líder de audiências e premiada com um Globo de Ouro por Esta Semana, que esteve no ar de 1996 a 2000 e no qual se concentra em temas sociais. No seu último ano na SIC, modera ainda um debate semanal com Proença de Carvalho, Paulo Portas e José Sócrates. Não voltará à televisão, a nenhuma televisão. Em 2003, regressa à TSF para um programa de entrevistas, género com que contribui também, até 2004, para a Notícias Magazine (revista dominical apensa ao Diário de Notícias e ao Jornal de Notícias). Com o aparecimento do semanário Sol (fundado em Setembro de 2006), publicará, até Março de 2009, uma entrevista/perfil de protagonistas da actualidade política. Entre 2009 e 2010, é directora de Comunicação da AMI – Assistência Médica Internacional. Nos últimos dois anos, regressa ao jornalismo com o projecto Portugueses da América. Será o derradeiro.» – Fernanda Câncio

Rui Ochoa

Natural da cidade do Porto, iniciou-se como jornalista no Jornal de Notícias. Em 1976, optou, em exclusivo, pela área do fotojornalismo. No início de 1980, começou a sua colaboração de 29 anos no jornal«Expresso, onde exerceu funções de director de fotografia, editor e repórter principal e onde assina, ainda hoje, diversos trabalhos jornalísticos. Autor de múltiplas reportagens em quase cem países, especializou-se em jornalismo político.
Colaborou, como fotógrafo, com os primeiros-ministros Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto Balsemão e Aníbal Cavaco Silva.
Leccionou workshops de Sociologia, História e técnicas da Fotografia na Universidade Autónoma de Lisboa e na Universidade Lusófona. É professor de jornalismo e de fotojornalismo na Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra.
Em 1985, no Centro de Estudos Fotográficos de Coimbra (futuro Encontros de Fotografia de Coimbra), realizou uma exposição/debate intitulada «Álbum de Família» – uma espécie de espelho crítico da classe política portuguesa de então. Em 2000, expôs, na Fundação Calouste Gulbenkian, o seu trabalho Oriente Ocidente, que percorreu também as cidades de Paris, Barcelona, Bilbau, Rio de Janeiro e Porto.
Recebeu o Prémio Nacional de Foto-Reportagem 1986 (Prémio Gazeta), atribuído pelo Clube de Jornalistas, e o Prémio Society for News Design – USA 1998, pelas reportagens A Cor do Trabalho/Ponte 25 de Abril e Um instante de emoções.