PRIMOS DA AMÉRICA - Tinta da China
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Uma viagem à América dos portugueses, escrita por um dos mais reputados cronistas portugueses.

«A aventura de Os Primos da América é a de gerações de homens e mulheres que atravessaram o mar em busca de uma esperança que lhes faltava na sua terra, quer porque ela fosse terra demasiado pobre, demasiado pequena, demasiado atrasada, ou demasiado tudo isso em simultâneo.
Este é um livro de História tanto quanto um livro de histórias. De uma História de Portugal onde não há lugar para a autocomiseração. Feita de gente como Joe Faria: ‘— Há portugueses que se queixam. Eu digo-lhes: vão para de onde vieram se são infelizes. Eu fui muito feliz aqui. — A vida é dura e Joe Faria, também.’
Ferreira Fernandes terá muito que calcorrear, ao longo das páginas desta admirável viagem, até descobrir Manuel Duarte, ‘o primeiro falhado assumido que encontrava na América’. À sua maneira, os nossos ‘primos da América’ são todos, de uma forma ou de outra, vencedores. Temos muito a aprender com eles.»
— Carlos Vaz Marques

Ferreira Fernandes

[Nota autobiográfica]

Ferreira Fernandes nasceu em Luanda, em 1948. A data e o local contaram muito: durante toda a sua infância, a pátria da sua infância (o que mais conta numa pátria) foi uma cidade crioula, mestiça. Depois, em 1961, com o começo da guerra colonial, Luanda ficou menos misturada – mas já o neto e filho de colonos era um filho da terra. Nacionalista angolano, exilou-se em 1969, viveu em Paris, em 1974 regressou a Lisboa, onde fora estudante, dois anos depois regressou a Luanda, onde fora feliz, e abandonou o seu país em 1977, porque sim. Tem voltado muito a Luanda para ver os sobrados da Cidade Alta que restam, e há cada vez menos. Entretanto, para ganhar a vida e contar coisas, tornou-se jornalista.
É repórter e cronista. O ponto alto da sua carreira aconteceu na ponte sobre o Ibar, em Mitrovica, Kosovo, em 1999. Viu uma velha sérvia que tinha nascido e vivido na margem errada, onde os albaneses atiravam pedras, e que fora depositada pelas tropas da ONU no meio da ponte, para ir para a sua margem, onde os sérvios espumavam de raiva. Todos os pertences da velha eram dois grandes sacos de plástico que os soldados onusinos gentilmente seguravam, deixando-a ocupada com o que a preocupava: os seus joelhos tremiam desalmadamente. Chegada à outra margem, oficialmente a sua, a velha sentou-se num canteiro, de costas para o Café Dolce Vita, agarrou-se aos joelhos e eles deixaram de bater. Então, o maxilar da velha desatou a tremer e ouviu-se o barulho dos dentes. Ferreira Fernandes percebeu, então, que era sobre isso que escrevia há muito, sempre o mesmo, e assim continuaria a escrever. Quem tinha razão na guerra do Kosovo, e em tudo o mais, eram os tremores da velha da ponte sobre o Ibar.