
A CANÇÃO, UM OBJECTO ÚNICO PARA RECONSTITUIR A HISTÓRIA CULTURAL DE UMA ERA
Poucos objectos culturais circulam tanto como uma canção. Cantada, gravada, ouvida, a canção anda pela rua, pela rádio, em concertos, é mostrada na televisão e no cinema, guardada em discos e noutros suportes. Canções como «Vocês Sabem Lá», «Desfolhada Portuguesa», «A Lenda de El-Rei D. Sebastião» ou «Venham mais Cinco» ajudaram quem as ouviu a situar-se no pós-guerra, nos anos 60, no período final do Estado Novo, e a imaginar o seu lugar no interior da sociedade portuguesa e de todas as comunidades globais que por essas décadas se formaram em torno dos gostos musicais e das suas formas de audição.
Mas as canções também produzem efeitos inesperados. Do romantismo que ajuda a escapar dos interditos morais ao protesto que antecipa revoltas políticas, elas contribuem para transformar o mundo. Nestas páginas, os protagonistas serão não só os intérpretes das canções, mas também aqueles que as ouviram e cantaram numa qualquer ocasião das suas vidas, tornando esses momentos banais nos verdadeiros acontecimentos da história que aqui se quer contar.
Luís Trindade
Luís Trindade é professor de História Contemporânea na Faculdade de Letras e vice-coordenador do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra. Doutorou-se, em 2006, pela Universidade Nova de Lisboa. Entre 2007 e 2019, leccionou História e Cultura Portuguesas no Birkbeck College da Universidade de Londres. Tem desenvolvido investigação na área da história cultural, em particular sobre o nacionalismo, a imprensa, o cinema, o neo-realismo, a música popular e os intelectuais em Portugal no século XX. Entre as suas principais publicações, contam-se O Estranho Caso do Nacionalismo Português: O salazarismo entre a literatura e a política (Imprensa das Ciências Sociais, 2008) e Narratives in Motion: Journalism and modernist events in 1920s Portugal (Berghahn Books, 2016). Na Tinta-da-china, publicou anteriormente Primeiras Páginas: O século XX nos jornais portugueses, Foi Você Que Pediu Uma História da Publicidade? e 1974: Portugal, uma retrospectiva (com Ricardo Noronha).