
Um livro inspirado numa viagem à Birmânia, Tailândia e Indochina, na década de 1920, e na imaginação do escritor.
«Durante vinte e três dias, Somerset Maugham percorre em condições precárias o território birmanês, nesse tempo sob colonização britânica. Dirige-se para Banguecoque, a capital do Reino do Sião, actual Tailândia, onde passa algumas semanas. Conclui a deambulação na Indochina francesa.
Maugham confessa, nestas páginas, que era um ‘mau viajante’. Tinha dificuldade em surpreender-se com aquilo que se lhe deparava ao longo da viagem. Habituava-se com demasiada rapidez ao que ia encontrando pelo caminho. Interessava-lhe acima de tudo ‘andar de um lado para o outro’ e escapar de si próprio: ‘Nunca regresso de uma viagem com o mesmo eu que levei comigo.’
É esse carácter subjectivo, intrinsecamente pessoal, que torna Um Gentleman na Ásia um relato de viagens admirável. Maugham não quer descobrir nem dar a conhecer, quer contar histórias. E quando não as encontra pelo caminho, inventa-as.»
— Carlos Vaz Marques
Somerset Maugham
William Somerset Maugham, filho de pais ingleses a viverem em França, nasceu em 1874, na embaixada britânica de Paris, de modo a escapar à obrigatoriedade de cumprir serviço militar imposta a todos os cidadãos nascidos em solo francês. Em dois anos, e antes de chegar à adolescência, Somerset Maugham perdeu ambos os pais. A morte da mãe foi especialmente traumática, e o escritor manteria à cabeceira, até ao fim da vida, uma fotografia dela. Quando ficou órfão, foi enviado para a Cantuária, em Inglaterra, permanecendo ao cuidado de um tio. Mudou de país e mudou de língua – a adaptação não decorreu pacificamente. Aos 16 anos, convenceu o tio a deixá-lo estudar em Heidelberga, na Alemanha, onde se dedicaria à Literatura, à Filosofia e à língua alemã. Aqui assumiria a sua bissexualidade, e aqui escreveria o seu primeiro livro, uma biografia do compositor Giacomo Meyerbeer. Quando regressou a Inglaterra, Somerset Maugham já tinha a certeza de que queria ser escritor. Todavia, por influência familiar, acabou por se dedicar ao estudo da Medicina durante cinco anos, em Londres, tendo mais tarde, durante a Primeira Guerra Mundial, trabalhado ao serviço da Cruz Vermelha. Posteriormente, foi operacional dos serviços secretos britânicos, na Suíça e na Rússia, antes da Revolução Bolchevique de 1917. Durante o conflito, viajou pela Índia e pelo Sudeste Asiático, experiência que lhe serviu de mote para alguns livros. Passou a Segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos da América, escrevendo argumentos para filmes e peças de teatro.
Liza of Lambeth, escrito em 1897, foi o seu primeiro livro de ficção – a edição esgotou em poucas semanas e Maugham desistiu da medicina para se dedicar apenas à literatura. Dramaturgo e romancista, antes dos 40 anos, já havia publicado dez romances e igual número de peças de teatro da sua autoria haviam subido a palco. Tornou-se um dos mais célebres escritores do seu tempo, e também um dos mais bem pagos. Servidão Humana (1915) e O Fio da Navalha (1944) contam-se entre as suas obras mais notáveis. Um Gentleman na Ásia foi publicado pela primeira vez em 1930.
Somerset Maugham morreu na sua casa de Cap Ferrat, no Sul de França, em 1965, e as suas cinzas foram espalhadas perto da Biblioteca Maugham, na Cantuária.