
Composição das entrevistas que o autor realizou às vítimas e aos perpetradores do atentado terrorista de 1995, numa tentativa de dilucidar a relação entre o atentado e a mentalidade japonesa.
«A data é 20 de Março de 1995. Está uma bela e límpida manhã de Primavera. Ainda se faz sentir uma brisa fria e as pessoas andam agasalhadas, de casaco. Ontem foi domingo, amanhã celebra-se o Equinócio da Primavera, é feriado nacional. Ensanduichado no meio do que deveria ter sido um fim-de-semana longo, está provavelmente a pensar ‘Quem me dera não ter de ir trabalhar hoje’. Mas não tem tal sorte. Levanta-se à hora do costume, lava-se, veste-se, toma o pequeno-almoço e dirige-se à estação de metro mais próxima. Entra para a carruagem, apinhada como de costume. Nada de anormal. O dia promete ser perfeitamente igual a todos os outros dias. Até ao momento em que cinco homens disfarçados direccionam os seus guarda-chuvas de pontas afiadas para o chão da carruagem, perfurando uns sacos de plástico cheios de um líquido estranho…»
Um dos mais famosos episódios do terrorismo contemporâneo, o atentado de Tóquio não só traumatizou as vítimas directas como abalou toda a sociedade japonesa. O que sentiram os sobreviventes do ataque? Como reagiram? Como explicar a obediência dos fiéis seguidores do líder da seita Verdade Suprema? Em Underground, Murakami compõe as entrevistas que realizou a dezenas de vítimas do gás sarin e a vários membros da Aum Shinrikyo (Verdade Suprema), tecendo uma narrativa em que procura compreender a relação entre o atentado e a mentalidade japonesa.
Haruki Murakami
Haruki Murakami nasceu em Quioto, em 1949. Frequentou a Universidade de Tóquio, dedicando-se sobretudo aos estudos teatrais. Antes de terminar o curso, abriu um bar de jazz chamado Peter Cat, à frente do qual se manteve entre 1974 e 1982. Em 1982, partiu para a Europa e depois para os Estados Unidos, onde acabaria por se fixar.
Escreveu o seu primeiro romance – Hear the Wind Swing – em 1979, mas seria em 1987, com Norwegian Wood, que o seu nome se tornaria famoso no Japão.
Escritor particularmente influenciado pela cultura ocidental, Murakami traduziu para o japonês obras de F. Scott Fitzgerald, Truman Capote, John Irving e Raymond Carver.