VIAGEM DE AUTOCARRO - Tinta da China
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«Um livro feito com o ritmo dos tempos da natureza, que aqui e ali serve aliás de porta de entrada para as reflexões profundas que muitas vezes começam por coisas simples como a descrição da cor de um figo, do canto de um rouxinol, do coaxar de uma rã, e terminam numa frase de Chesterton ou num poema de Leopardi. As descrições das cores dos alimentos e das paisagens aproximam-nos muito da paleta e da técnica dos pintores impressionistas.»
— Rui Lagartinho, Público

Josep Pla percorre a Catalunha de autocarro. Vai de aldeia em aldeia, numa geografia rural onde a paisagem se impõe como motor para reflexões, divagações e devaneios. É uma viagem pessoalíssima, onde uma conversa aparentemente banal se transforma numa reflexão sobre a condição humana. As intuições de Josep Pla são sempre extraordinariamente agudas, e é esse um dos encantos deste livro.
O que faz actualíssima esta Viagem de Autocarro é a escrita de Pla: de uma clareza sem um pingo de superficialidade, sempre temperada pelo sal da ironia, por vezes tocada por uma ligeira amargura que nunca se confunde com rancor.
Josep Pla tinha a obsessão do adjectivo certo, e o rigor com que descreve paisagens e pessoas corresponde à capacidade rural de nomear com exactidão cada árvore, cada planta, cada elemento da natureza. Saber sempre a palavra exacta para cada coisa é um poderoso meio de transporte. É nele que Pla nos conduz ao território a que chamamos literatura.

Josep Pla

Josep Pla nasceu em Palafrugell, na comarca catalã de Empordà, em 1897. Considerado por muitos o mais importante escritor da literatura catalã contemporânea, é também seguramente um dos mais profícuos, pois a sua obra totaliza 47 volumes.
Em 1909, Pla foi estudar para Girona e, em 1913, mudou-se para Barcelona, onde estudou Ciências e Medicina e onde se licenciou em Direito. Contudo, dedicou a vida ao jornalismo e à literatura. Publicou em 1925 o primeiro livro, Coses Vistes, que logo se tornou um enorme sucesso junto do público e da crítica. Enquanto jornalista, foi correspondente em vários países e esteve exilado duas vezes, em Paris e em Roma, devido a artigos de opinião que criticavam o regime político espanhol. Trabalhou como correspondente em Madrid durante todo o período republicano (1931-1936), mas abandonou a cidade nas vésperas do início da Guerra Civil de Espanha. Durante o conflito, Pla viveu em Barcelona, Marselha e Roma. No imediato pós-guerra, e na sequência do desencanto com o rumo político-social do seu país, retirou-se para Empordà. Ao longo dos anos seguintes, redescobre as paisagens e as gentes da sua terra natal, as pequenas aldeias, o mar. Não volta a viver em Barcelona. Em 1939, Pla publicou o primeiro artigo na revista catalã Destino. Esta colaboração permitiu-lhe voltar a viajar extensamente pelo mundo – França, Israel, Cuba, Nova Iorque, Médio Oriente, América do Sul, União Soviética –, já não enquanto correspondente, mas como jornalista em observação, escrevendo não apenas reportagens extraordinárias como também notáveis livros de viagens.
Josep Pla morreu em Empordà, em 1981.