
«Poucos líderes políticos atingiram em vida o estatuto de quase santidade de Nelson Mandela. Talvez Gandhi se aproximasse deste estatuto, mas dificilmente o aclamaríamos ‘Presidente do Mundo’, como aconteceu com Mandela em 2007, na inauguração da sua estátua em Westminster Square, ou o imaginaríamos elogiado como o maior libertador do século XX pelo presidente dos EUA, como fez Barack Obama no funeral de Mandela, a 10 de Dezembro de 2013. Porém, Mandela não era um busto de mármore, mas um homem de carne e osso, que demonstrou o poder das ideias com muito esforço e determinação, conquistando o seu lugar na história através da luta, da sagacidade, da persistência e da fé. Foi o trabalho árduo e o sofrimento, a par do seu enorme carisma, que lhe permitiram superar barreiras raciais aparentemente intransponíveis na África do Sul, criando elos de reconciliação que muitos consideraram e ainda consideram quase miraculosos.»
— E. Boehmer, Prefácio à edição portuguesa
Mandela é sem dúvida um herói na África do Sul. Mas como se tornou ele também um nome maior a nível mundial? Por que motivo o seu rosto se sobrepõe a todos os outros (incluindo o de Gandhi) e é escolhido para tornar mais apelativas as capas dos livros de síntese da história contemporânea? Empenhado numa luta solitária pelos direitos dos negros, no seu caso justifica-se plenamente a teoria de que os grandes homens fazem a história. Mas a verdadeira imagem – a componente real da magia de Madiba – é bastante mais complexa do que sugere a história lendária de uma personalidade excepcional. Às qualidades de carácter de Nelson Mandela associam-se, por exemplo, o seu talento como actor e a proximidade de outros políticos sagazes. A habilidade social e o entendimento do outro permitiram-lhe adaptar a sua postura nacionalista aos desenvolvimentos políticos, recorrendo cada vez mais a modelos de resistência transnacionais e dirigindo-se a uma audiência internacional. No decurso de todo esse processo, recorreu sempre à sua ascendência nobre e à autoridade consensual por ela transmitida, a fim de criar as estruturas de liderança colectiva e democrática do ANC.
Elleke Boehmer
Elleke Boehmer (1961) é romancista, crítica literária e professora de Literatura Anglófona na Universidade de Oxford.
Figura pioneira nos estudos coloniais e pós-coloniais, obteve reconhecimento internacional através da sua obra publicada: Colonial and Postcolonial Literature: Migrant Metaphors (1995), Empire, the National and the Postcolonial (2002), Stories of Women: Gender and Narrative in the Post-colonial Nation (2005), para citar os exemplos mais destacados. Nile Baby (2008) é o mais recente dos seus quatro romances.
Extensão natural do trabalho de Boehmer sobre as consequências do colonialismo no pós-apartheid da África do Sul, A Vida de Nelson Mandela foi um sucesso de vendas no mundo anglo-saxónico e encontra-se traduzido em diversas línguas.