VIVA MÉXICO - Tinta da China

«Alexandra Lucas Coelho percorre o país de Zapata, um século depois da revolução, e indigna-se, aflige-se, comove-se, ri e chora e faz-nos participar de tudo isso. Nós vamos com ela e como ela, ao lado dela, não somos turistas, somos viajantes. Imunes ao pecado mortal da indiferença.»
— Carlos Vaz Marques

«A Europa está morta e eu sou europeia. Ou, mais exactamente, do Velho Mundo. Ao fim do primeiro dia na Cidade do México, a levitar como se me tivesse dissolvido na multidão, vi que sou do Velho Mundo. E ao longo de três semanas a viajar pelo México, do deserto de Chihuahua à selva do Yucatán, vi como sou do Velho Mundo.
O México dá vontade de chorar, um choro de séculos em que não percebemos porque choramos, se somos nós que choramos, se não seremos nós já eles. Nunca, em lugar algum, me pareceu que tudo coexiste, tempos e espaços, cimento e natureza, homens e animais, até aceitarmos que o nosso próprio corpo faz parte daquela amálgama acre, ligeiramente ácida, de pele suada com muito chile.
Octavio Paz descreve os mexicanos como o mais solitário dos povos, perpetuamente incapaz de transpor e ser transposto. Por isso, e por tudo e por nada, existe a fiesta. É uma necessidade orgânica, a descarga.
Este Novo Mundo começa no extermínio, e isso há-de significar qualquer coisa. No tempo indígena significa que o extermínio histórico faz parte do presente.»
— Alexandra Lucas Coelho

Alexandra Lucas Coelho

Alexandra Lucas Coelho nasceu em Dezembro de 1967, em Lisboa. Estudou teatro, e comunicação na Universidade Nova.
Tem carteira de jornalista desde Janeiro de 1987. Trabalhou dez anos na rádio, como repórter e editora, e entre 1998 e 2012 no jornal Público, tendo coberto várias zonas de conflito, sobretudo no Médio Oriente e Ásia Central, incluindo uma temporada baseada em Jerusalém. Em 2010 fez uma viagem pelo México e mudou-se como correspondente para o Rio de Janeiro, onde morou até 2014. Foram-lhe atribuídos vários prémios de jornalismo.
Publicou cinco livros de reportagem-crónica-viagem: Oriente Próximo (2007), Caderno Afegão (2009), Viva México (2010), Tahrir (2011) e Vai, Brasil (2013). Em 2012 lançou o seu primeiro romance, E a Noite Roda, vencedor do Grande Prémio de Romance e Novela APE 2012, e em 2014 o segundo, O Meu Amante de Domingo, que saiu em francês, pelas Éditions du Seuil. Deus-dará é o seu mais recente romance.
Vários dos seus livros estão publicados no Brasil.